Mary, minha amada Mary, tenho trabalhado o dia inteiro, mas não podia ir para a cama sem antes lhe dizer “boa noite”. Sua carta mais recente é um puro fogo, um corcel alado que me leva para uma ilha onde só consigo escutar músicas estranhas, mas que um dia compreenderei.
Os dias têm sido cheios destas imagens, vozes e sombras — e há fogo também em meu coração, em minhas mãos. Preciso transformar toda esta energia em algo que faça bem à mim, à você, e às pessoas que nos são queridas.
Será que você sabe o que é queimar, arder num imenso braseiro, sabendo que este incêndio está transformando em cinzas tudo que existe de ruim, e deixando na alma apenas o que é verdade?
Oh, não existe coisa mais abençoada que este Fogo!
[Trecho da correspondência (1908/1924) mantida entre Kahlil Gibran e Mary Haskell. Tradução de Paulo Coelho.]
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