Agora sim, fiquei sozinho. O ar ao meu redor estava mais leve. Não era fácil aceitar a solidão. Nem aprender a me auto-abastecer. Eu continuava pensando que seria impossível. Ou desumano. “O homem é um ser social”, tinham me repetido muitas vezes. Isso, mais o calor do trópico, o sangue latino, minha mestiçagem fabulosa, tudo conspirava em torno de mim, como uma rede, deixando-me incapacitado para a solidão. Esse era o meu problema, o meu desafio: aprender a viver e a desfrutar dentro de mim. E o problema não é simples: os hindus, os chineses, os japoneses, todos os povos que têm culturas milenares dedicaram boa parte do seu tempo a desenvolver filosofias e técnicas de vida interior. Mesmo assim, todo ano se suicidam no mundo não sei quantos milhares de pessoas, arrasadas pela própria solidão. E não é verdade que alguém escolha estar sozinho. É que, pouco a pouco, vai ficando sozinho. E não tem saída. É preciso resistir. Você chega a uma imensa planície desértica e não sabe que merda fazer. Muitas vezes pensa que o melhor é fugir. Para outro país, outra cidade, outro lugar. Mas continua amarrado. Outras vezes acha que é melhor não pensar muito em si mesmo e na puta solidão, que fica ainda mais aguda quando você está isolado e em silêncio. Bom, então é preciso se mexer. E você sai por aí. À procura de um amigo, ou de uma mulher que lhe dê um pouco de sexo. Não sei. Alguém para não ficar sozinho, porque você já sabe que quando fica assim o rum e a maconha deprimem ainda mais. Um pouco de sexo, talvez. Se não, pelo menos um amigo.