quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Só mais uma resposta não dada...

Porque é loucura estar dependente de meia dúzia de boas palavras que só vêm quando resta tempo e o tempo se junta a oportunidade e estes dois juntam-se a vontade; essa junção é rara...cada vez mais rara...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Prazo de Validade

Passou o requeijão no pão nu, com cuidado para não avançar a fronteira da casca. Moça meticulosa. Apresentou o açúcar ao café e, com ajuda da colherinha, os dois iniciaram uma dança no interior da xícara. No dia sem pressa, levou a fatia à boca e distraiu-se com a paisagem da mesa. Tomou um susto que lhe congelou a garganta. Buscou os óculos, “Cadê meus óculos?!”. Estava escrito no rótulo do requeijão: ele venceria no dia do seu aniversário. Teve certeza, aquilo era um sinal. Só não sabia de quê.

Pouco mais de quarenta dias. Era o que restava ao requeijão, condenado ao sair da fábrica. Era o que faltava para ela comemorar mais um ano da sua saída, não da fábrica, mas do ventre. Que não deixava de ser uma fábrica. E se, escondida no corpo, embalagem da alma, estivesse tatuada a data de seu fim? Olhou os pulsos, os tornozelos. Apanhou dois espelhos e conferiu a nuca, sempre encoberta pela longa cabeleira. Nada. “Melhor assim”, pensou.

Daquela manhã desapressada em diante, passou a ter uma pressa incomum. Urgências diversas para todas as coisas, como atender os pacientes no consultório, beijar o noivo, passear com os cães. E o medo, insólito, de expirar no dia do parabéns? E se sua vida também fosse assim breve? Nem sempre as respostas vêm assim, tão expressas como nas embalagens. Ainda bem.

Duas torradas assistiram ao fim do requeijão, antes mesmo da data fatal. Seu aniversário chegou, e com ele, a descoberta: vida, assim como amor, felicidade e saudade, não têm prazo de validade. Eles duram conforme o estoque.

*Mais um texto maravilhoso, disponível aqui.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Podia ser só amizade, paixão, carinho, admiração, respeito, ternura, tesão.
Com tantos sentimentos arrumados cuidadosamente na prateleira de cima, tinha de ser justo amor, meu Deus?
Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo.
Aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim.
Dilacerando felicidades de mentira, desconstruindo tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto.
É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias.
É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris, pisar sobre estrelas e acordar serena.
É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito, preparar uma massa, sentir seus cílios.
“Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje?”
Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar.
Não negue, apareça.
Seja forte.
Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto.
Não posso esperar.
Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes.
Sem esperas, sem amarras, sem receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados.
É preciso que você venha nesse exato momento.
Abandone os antes.
Chame do que quiser.
Mas venha.
Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates… Apague minhas interrogações.
Por que estamos tão perto e tão longe?
(…)
Não nego.
Tenho um grande medo de ser sozinha.
Não sou pedaço.
Mas não me basto.

...

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Porto Alegre, 10 de agosto de 1985.

"... isso que chamamos de amor, esse lugar confuso entre o sexo e a organização familiar..." (Caetano Veloso)
(...)
Cansado, cansado. Quase não dormi. E não consigo tirar você da cabeça. Estou te escrevendo porque não consigo tirar você da cabeça. Hesito em dizer qualquer coisa tipo me-perdoe ou qualquer coisa assim. Mas quero te contar umas coisas. Mesmo que a gente não se veja mais. Penso em você, penso em você com força e carinho. Axé.
Foi mau, ontem. Fui mau, também. Menos com você, mais comigo mesmo. Depois não consegui dormir. Me bati pela casa até quase oito da manhã. Teria telefonado para você, não fosse tão inconveniente.
(...)
Não era nada com você. Ou quase nada. Estou tão desintegrado. Atravessei o resto da noite encarando minha desintegração. Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro. Farpas. Uma pressa, uma urgência.
E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.
(...)
E você não me conhece, eu não conheço você.
Te escrevo por absoluta necessidade. Não conseguiria dormir outra vez se não te escrevesse.
(...)
Fiz fantasias. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena. Todas as cartas de amor são ridículas. Esse lugar confuso de que fala Caetano. E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti.
(...)
Quando pergunto você-compreende-tudo-isso não estou subestimando você. Ah, deus, perdoe. Não sinto agressividade nenhuma em relação a você. E gosto das tuas histórias. E gosto da tua pessoa. Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções contraditórias, confusas, soma-las, diminui-las e tirar essa síntese numa palavra só, esta: gosto.
(...)
Não sei se a gente pode continuar amigo. Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa frugalidade das emoções. Fico tomado de paixão.
Há tempos não ficava.
E toda essa peste, meu amigo. O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida, aos 36 anos, tão pouco. Nem vivi nada ainda. E não sou sequer promíscuo. Dum romantismo não pós, mas pré todas as coisas - um romantismo que exige sexualidade e amor juntos. Nunca consegui. Uns vislumbres, visões do esplendor. Me pergunto se até a morte - será? Será amor essa carência e essa procura de amor, nunca encontrar a coisa?
(...)
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
(...)
Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim - para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura. Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem.
Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.
Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,
Caio F.
p.s.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.

*Por Jennyfer Teixeira, quarta, 22 de setembro de 2010 às 11:27, no Facebook.
E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer.
Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras.
Para que não me firam, minto.
E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também.
Não queria fazer mal a você.
Não queria que você chorasse.
Não queria cobrar absolutamente nada.
Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem?
Sem que se consiga controlar.
(...)
Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és.

Eis o Caio que me embala hoje...
Terça, 21 de setembro de 2010 às 23:43
Facebook.

Fragmento de um texto que fala sobre o livro "Aritmética", que por sua vez, é de Fernanda Young.

"...Então nos metemos a ir atrás de casinhos inconseqüentes para nos sentirmos homens e mulheres de novo, no sentido mais básico do termo. Contudo, não raro o que eram pra ser casinhos inconsequentes se transformam em paixões sérias, devastadoras. Não há como se controlar isso, manter nossos instintos afetivos sob rédea curta. Depois de umas poucas doses de traição, estamos viciados na coisa. E lá ficamos nós, fissuradíssimos, olhando a caixa postal do celular de cinco em cinco minutos pra ver se alguém deixou recado. E ninguém deixou. E não só ninguém deixou, como a gravação que diz que não há recado parece ir ficando, a cada vez que ligamos, mais e mais irônica. É possível que, na próxima vez em que a gente ligue, acabe ouvindo algum troço do tipo, "querida(o), ele(a) não vai te ligar, esqueça"..."

Pois isso é quase tudo o que tenho de ti, nome e palavras...

"... Mas aí tu chegou mansinho, bem como eu acho que deve ser. Pra mim né? Tu completou sem invadir. Confortou sem sufocar. Tu chegou como uma cor clara, um tom nude, e foi colorindo até virar uma profusão de cores, matizes e tons. Tudo ao mesmo tempo, colorindo minha vida. Tu não chegou de um jeito devastador, como uma luz forte furta-cor me cegando, me confundindo toda, e sabe, há long long long time eu esperava algo assim. Namoro na sala, amor com calma, com cor, música, cafuné, beijo e paz."

"Existem pessoas como a cana, que mesmo postas na moenda, reduzidas ao bagaço, só sabem dar doçura."
"Errei pela primeira vez quando me pediu a palavra amor, e eu neguei. Mentindo e blefando no jogo de não conceder poderes excessivos, quando o único jogo acertado seria não jogar: neguei e errei. Todo atento para não errar, errava cada vez mais."

"Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, crau, dá errado. Isso porque ao contar a gente tem a tendência a, digamos, "embonitar" a coisa, e portanto distanciar-se dela, apaixonando-se mais pelo supor-se apaixonado do que pelo objeto da paixão propriamente dito."

Tu e Eu

Somos diferentes, tu e eu
Tens forma e graça
E a sabedoria de só saber
Crescer até dar pé
Eu não sei onde quero chegar
E só sirvo para uma coisa
Que não sei qual é!
És de outra pipa
E eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto

Gostas de um som tempestade
Rock lenha
Muito heavy
Prefiro o barroco italiano
E dos alemães
O mais leve
És vidrada no Lobão
Eu sou mais albônico
Tu, fão
Eu, fônico

És suculenta
E selvagem
Como uma fruta
Do trópico
Eu já sequei
E me resignei
como um socialista
Utópico
Tu não tens nada de mim
Eu não tenho nada teu
Tu, piniquim
Eu, ropeu

Gostas daquelas festas
Que começam mal
E terminam pior
Gosto de graves rituais
Em que sou pertinente e
Ao mesmo tempo o prior
Tu és um corpo
E eu um vulto,
És uma miss
Eu um místico
Tu, multo
Eu, carístico

És colorida,
Um pouco aérea
E só pensas em ti
Sou meio cinzento
Algo rasteiro
E só penso em Pi
Somos cada um
De um pano
Uma sã
E o outro insano
Tu, cano
Eu, clidiano

Dizes na cara
O que te vem a cabeça
Com coragem e ânimo
Hesito entre duas palavras
Escolho uma terceira
E no fim digo o sinônimo
Tu não temes o engano
Enquanto eu cismo
Tu, tano
Eu, femismo

Uma delicada forma de calor

Eu me lembro de você descontrolada
Tentando se explicar
Como é que a gente pode ser tanta coisa indefinível
Tanta coisa diferente
Sem saber que a beleza de tudo
É a certeza de nada
E que o talvez torne a vida um pouco mais atraente

Perfume Barato [Vanessa da Mata]

Adoro deitar no seu peito, sentir você
Grudar o meu corpo no seu, meio sem querer
Você sempre acha que eu tô sonhando
Eu sei muito bem o que faço
Procuro seus braços
Adoro olhar o seu rosto, beijar você
Achar que a vida é mais simples do que me anunciam
E o diabinho que me distrai
É o caos
E nesse perfume barato contém solidão.
Brincando de ser sua dona
Querendo ser a única
Tentando por fim que você seja o único homem pra mim.
Eu te guardo como a coisa mais bela
Eu te tenho como alguém imortal
Não sei se sou tão sincera, mas
Eu sou tua afinal.
Há uma mulher seguindo seus passos
E a infidelidade pisca pra mim
Nisso sejamos justos
Se você for quero ir
Pode ser prioridade, mas exclusividade não.

Paixão [Kledir Ramil]

E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar
Ser feliz é tudo que se quer
Ah! Esse maldito fecho eclair
De repente a gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar
Depois do terceiro ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier, vem bem
Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim, nem por ninguém
Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar
Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar
Tens um não sei que de paraíso
E o corpo mais preciso
Do que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou.

*Gente, isso na voz de Belchior é uma perdição...a-do-ro!

Memórias de Minhas Putas Tristes

Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza.
Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio.
Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
(Pg. 74)

Amor mais que discreto [Caetano Veloso]

...Se um dia afinal eu chegasse a ver que você vinha
E isso é tanto que pinta no meu canto
Mas pode dispensar a fantasia
O sonho em branco e preto
Amor mais que discreto
Que é já uma alegria
Até mesmo sem ter o seu passado, seu tempo
O seu agora, seu antes, seu depois
Sem ser remotamente
Se quer imaginado
Se quer imaginado
Se quer
Por qualquer de nós dois...

 
Porque estou feliz
e porque está em mim a vontade de
"caetanear o que há de bom"
e és tu, hoje, o meu melhor motivo...
Segunda, 30 de agosto de 2010 às 12:44
Facebook.

A tristeza é feia e quer casar [Silmara Franco]

Está no dicionário: Tristeza: [Do lat. tristitia.] S.f. 1. Qualidade ou estado de triste. 2. Falta de alegria. 3. Pena, desalento, consterna...