Até os 30, eram amigas inseparáveis.
Saíam, viajavam e aprontavam sempre juntas.
Até que uma delas se apaixonou por um estrangeiro meio aventureiro e sumiu no mundo com ele.
A outra ficou com uma certa inveja, mas sabendo, bem dentro dela, que não teria coragem para fazer a mesma coisa.
Continuou sua vida, casou com um homem que lhe dava paz e nunca mais teve notícias da amiga tão querida.
Vinte anos se passaram e, um dia, as duas se cruzaram num restaurante.
Foi um encontro mágico e já deixaram marcado um almoço para aquela semana.
Ambas chegaram 15 minutos antes da hora, tal a vontade de se reverem e de botar as notícias em dia.
A que havia ganho o mundo contou que a grande paixão tinha durado pouco mais de um ano, mas, como estava em Paris, cidade que adorava, procurou um trabalho, mesmo modesto, com salário apertado, para poder ficar.
Foi pulando de paixão em paixão, nas férias viajava de trem para outros países – viagens econômicas – e assim conheceu grande parte da Europa.
Houve muitas noites em claro esperando que ele – o homem da hora – chegasse e muito choro de madrugada, sozinha, porque ele não apareceu.
Mas houve também verões maravilhosos na Grécia, noites inesquecíveis em Veneza e momentos de intensa felicidade.
Mas um dia ela acordou e se perguntou: “O que é que estou fazendo aqui?”.
Resolveu voltar.
E ali estava, aos 50 anos, sem trabalho, sem filhos, sem ter um homem para chamar de meu amor, tendo que começar tudo de novo e sem se entender muito bem.
E quis, logo, saber da história da amiga.
A outra havia se casado, tinha dois filhos já grandes e uma vida confortável, tranqüila, sem muitas novidades. Mas era feliz, isso é o que importava.
Não tinha do que se queixar: o marido é um bom pai, não reclama de nada, chega sempre na hora e todo ano, no dia do aniversário de casamento, data que ele nunca esquece, vão jantar fora – e da última vez terminaram a noite num motel.
Mas algumas bobagens a irritam.
Quando, por exemplo, nos fins de semana, ele veste invariavelmente uma bermuda, camiseta, põe nos pés aquela sandália – aquela – e fica vendo futebol na televisão, seja que jogo for.
Nesses longos anos de casamento nunca se sentiu atraída por outro homem, a não ser em pensamento, claro.
Mas nunca o traiu, pois sente nele uma firmeza reconfortante.
Toda vez que ele volta de uma viagem e ela vai esperá-lo no aeroporto, seu coração bate mais forte e pensa, na porta do desembarque: “E se ele não chegar?”, só que ele sempre chega.
O bem maior desse casamento, segundo ela, é que entre os dois existe um grande respeito.
Embalada pelo segundo copo de vinho, a casada se abre e diz que o marido não precisava ser tão previsível.
Ah, como gostaria que um dia ele aparecesse com um brilho diferente nos olhos – fosse de desejo, admiração ou ódio –, um brilho que significasse alguma vibração.
É disso que ela sente falta; só disso, de mais nada.
A solteira, que passou todos esses anos só com esse “isso”, pensa que gostaria de ter uma casa, um marido, uma certa paz.
Será que foi louca e jogou a vida fora?
Já a outra fica pensando que está há 20 anos com o mesmo homem, não conheceu nada do mundo e acha que talvez devesse ter tido mais coragem de se aventurar antes de entrar num casamento tão sólido.
Será que foi louca e jogou a vida fora?
Elas se despedem e cada uma vai para o seu lado, sem saber, afinal, o que pensar da vida.
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