Amor é o sentimento destinado ao prazer e à felicidade mas também à dor, ao sofrimento e à doação. Quem for capaz de amar não espere grandes recompensas, só respostas otimistas. Amar, às vezes é apesar.
Amor é também o sentimento que se instala a partir do primeiro tédio. Não é apenas o impulso explosivo em direção de alguém, isso é atração, paixão, ou qualquer outro "ão". Amor é o que mantém unido quem já deixou de sentir intensidades. Amor pode ser quantidade mas é, sobretudo, qualidade do sentimento. Paixão é só quantidade. E incontinência. Por que pessoas permanecem unidas? Examine-se esse material obscuro e descobrir-se-á a face oculta e até feia do amor.
Quanto menos sentimentos exaltados, porém união, mais amor. Amor é vivência clara mas indefinível, embaraçada nas raízes fundas do melhor sentimento. Muitos nem têm consciência dessas raízes. Temem-as, preferem não vê-las porque vê-las será revelar-se. E revelar-se assusta.
Amor também é o sentimento misturado com rejeição, raiva, irritação, convivência, intermitente desinteresse, tédio, vazio a dois, arrefecimento da paixão ou emoções intensas. É tão grande, pleno, poderoso e incrível o amor que resiste a tudo isso. Inclusive às impossibilidades, estranho veneno que o alimenta.
Nem sempre deixa de amar quem já não gosta igual ou não sente a mesma atração. Talvez só aí comece a amadurecer o sentimento que se irá para transformar em amor. Pessoas que se atraem à perdição, nem por isso começaram a se amar. Enquanto apenas se atraírem não alcançarão o amor, embora até este possa estar embutido na enorme atração. Como pode não estar.
Alcançar o amor talvez seja mais renúncia do que alegria, felicidade ou glória. Nem sei se felicidade sempre consegue ser compatível com amor, embora seja com ela que o amor começa. O amor (é tão grande que) independe da felicidade. Coroa-se com ela, tem-na como meta, mas sem a sua presença também, e governa o sentimento. Eros é deus, não esquecer-se. O amor não busca a felicidade embora esta venha a seu encalço; o amor busca amar, o resto se alinha depois. Felicidade é trilha querida do amor. Este, porém, nem dela necessita, embora a gere, preserve e alimente, como pai.
Felicidade é estar amando e não o resultado do amor. O resultado do amor é comunhão.
(Artur da Távola)
"Lαdo α lαdo com o desejo de defender α própriα intimidαde, há o desejo intenso de me confessαr em público e não α um pαdre." [Clαrice Lispector]
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