segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Diminutivos.

Domingo que vem, Mario Quintana faria cem anos.
Um poeta superlativo, que de franzino só tinha a aparência.
Mas houve quem tentasse fazê-lo parecer menor do que era.
É sabido que certa vez um figurão disse a ele: "Gostei muito dos seus versinhos", no que Quintana rebateu: "Obrigado pela sua opiniãozinha".
Diminutivos caem bem quando aplicados aos nomes próprios.
Verinha, Tavinho, Soninha.
Há até quem tenha recebido este carinho já na certidão de nascimento: a maioria das Terezas que eu conheço são, na verdade, Terezinhas, assim registradas em cartório.
No mais, os diminutivos são aceitáveis no universo infantil, quando a vida parece o Minimundo.
"Gostou do brinquedinho?"
"Quer mais uma bananinha?"
E ficamos por aqui.
Conversa entre gente grande não comporta excesso de "inhos" e "inhas", a não ser que se esteja a serviço de um plano de tortura.
Uma vez, entrei numa loja cuja funcionária conseguiu abalar meus nervos.
"Oi, amorzinho, posso te ajudar?"
"Qual é o teu nomezinho?"
"Esta blusinha vai ficar uma gracinha".
Parecia que eu estava na Saci.
Lembra da Saci, aquela loja de roupa infantil do tempo em que criança se vestia de criança?
Não agüentei nem dois minutos, fui embora antes que ela me fizesse regredir ao útero materno.
Tem aquela situação clássica: quando te chamam de filhinha.
Uma vez testemunhei um palestrante responder assim à pergunta de uma moça na platéia: "Veja bem, filhinha..."
Eu teria me levantado e dado boa-noite.
Atender por filhinha e filhinho, só se forem seus pais chamando, e eles sempre lhe chamarão deste modo, mesmo que você seja um filhão de 57 anos com 1m90cm de altura.
Escolha: ganhar um beijinho ou um beijo?
Descolar um dinheirinho ou ganhar dinheiro?
Comprar um carrinho ou um carro?
A maneira como falamos revela como nos sentimos: se fazendo conquistas ou recebendo esmolas da vida.
Para as gurias: jamais tolere ser chamada de mulherzinha.
Imediatamente você estará permitindo que lhe etiquetem as piores qualificações, já que mulherzinha é fragilzinha, dependentezinha, medrosinha, boazinha.
Que boazinha, o quê.
Mulher tem que ser boa.
Ou má.
Melhor se precaver contra os que se aproximam cheios de diminutivos.
Pode ser afeto, mas também pode ser ódio.
Quando uma mulher chama outra de "queridinha", está, no fundo, querendo saltar na jugular da querida. Quando um homem diz: "Vou ali falar com aquele carinha", há grande chance de o papo terminar em pancadaria.
Pra completar, tem aqueles que aprontam com você e depois dizem "foi brincadeirinha".
Cuidado com tanta meiguice.

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