segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Pegação.

Eu vou pegar uma caneta e já anoto seu número.
Eu vou pegar o próximo ônibus.
Eu vou pegar um copo d´água pra você.
Eu, bro? Vou pegar uma mulher! Duas, se bobearem...
Ah, língua portuguesa, que flexibilidade.
O tempo passa e o nosso vocabulário muda, se expande, se transforma, ganha novos e riquíssimos significados, como este agora: pegar mulher.
Aliás, pega-se homem, também.
É natural que garotos e garotas saiam pra noite querendo se dar bem, conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... esquece, a partir daí já não acho natural coisa nenhuma.
Acho um desperdício de energia.
Pegar quatro caras.
Pegar cinco minas.
A gente está falando de quê, de catadores de lixo?
Parece.
Não se trata de caretice, mas de adequação.
Pegar, pega-se coisas.
Não gente.
Coisas.
Bonecos infláveis, que podemos segurar, tocar, lamber e descartar 10 minutos depois.
Coisas.
Produção industrial, sentimento nenhum, envolvimento zero.
Coisas.
Objetos inanimados.
Sem voz, sem idéias, sem vida.
Coisas.
Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegue-e-use, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos-depois.
Pegar, cá pra nós, é um verbo muito cafajeste.
Tudo bem experimentar sensações diversas, conhecer de tudo, exercitar a sexualidade, mas em vez de "pegar", poderíamos empregar algum outro verbo menos frio e automático.
Porque, quando duas bocas se tocam, nada é assim tão frio e automático, na maioria das vezes a naturalidade é forçada, é a turma que dita as regras e exige que todos se comportem igual, então vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em casa, mas deixaram nada.
Deixaram a personalidade em casa, isso sim.
Mas o que uma tia como eu pode fazer contra o avanço (avanço??) dos costumes e a vulgarização do vocabulário?
Sou do tempo em que pegava-se uma carona, um avião, uma gripe.
Quando o assunto era relação, por mais frágil e rápida que fosse, ninguém estava pegando ninguém.
Ao contrário, estava todo mundo se soltando.

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