Lembra daquele anúncio de "procura-se" que saiu algumas vezes aqui em Zero Hora?
Que coisa esquisita.
"Procura-se".
Ao melhor estilo faroeste, o jornal fazendo papel de poste.
À primeira vista, achei que fosse algum anúncio publicitário, mas não: uma família foi assaltada e decidiu ir à caça dos bandidos por conta própria.
É provável que houvesse algo de muito valor afetivo a ser recuperado, ou a motivação foi vingança.
Seja o que for, achei tudo muito estranho e ligeiramente incômodo.
Pois agora esse anúncio voltou à minha mente, e já explico por quê.
Zero Hora publicou ontem uma história hilária que me aconteceu.
Quinta-feira passada, um senador italiano leu um texto meu em plenário e com isso ajudou a provocar a queda do primeiro-ministro daquele país.
Dizem que o momento da leitura do texto foi uma comoção.
Só que o tal senador creditou o texto a Pablo Neruda, pois foi desse modo que ele o recebeu pela internet. No dia seguinte, quem diria: os principais jornais da Itália estampavam uma foto minha, creditando a mim a verdadeira autoria do texto que abalou o governo.
Meus 15 minutos de fama internacional.
Achei a maior graça, vou fazer o quê, chorar?
Jamais um texto meu seria lido tão longe e por um motivo tão sério se não achassem que o autor era um Nobel de Literatura.
Francamente, quem é que sabe que eu existo na Itália?
Bom, agora sabem.
Indiretamente, saí ganhando com esse equívoco, mas vamos pensar juntos: por que o senador não leu um texto com autoria comprovada?
Simples: porque foi mais um que se deixou levar pelas "facilitações" da internet.
Porque é provável que ele nunca tenha lido Neruda na vida, ou saberia reconhecer o estilo do chileno. Porque ele foi apressado e confiou demais no mundo virtual quando deveria seguir confiando em livros.
Eu sou fã da internet, mas é preciso saber usá-la com mais parcimônia.
Me incomoda ver as pessoas se desabituando a privilegiar a cultura impressa, documentada, com marca registrada e direito autoral garantido.
Assim como também estão se desabituando a ter relações reais, de toque, olho no olho, emoções com algum registro sensorial comprovado.
Então volto ao assunto lá do início dessa crônica: não estaremos todos meio foragidos de nós mesmos? Inspirada naquele anúncio de "procura-se", resolvi lançar a seguinte campanha: "procuro-me".
Tenho tido provas cabais de que estou perdendo a identidade nesse mundo excessivamente virtual.
Não sei você, mas vou atrás de mim mesma. Estou saindo de férias, volto assim que me encontrar.
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