sexta-feira, 5 de novembro de 2010

In: Diário dos Infiéis, Oficina do Livro, 2010.

Há palavras que metem medo, como a palavra amante.
O que sou eu para ti? – perguntam.
Depois morrem de medo que lhes responda: uma amante.
E eu próprio fico com a palavra atolada na mente, com medo de responder: uma amante…!
E ali ficamos, dois amantes abraçados com medo de uma palavra.
Como se a palavra amante não tivesse o brilho das grandes palavras que derivam do verbo amar.
O que sou para ti? – pergunta a Dora.
Sabes bem o que és para mim, não sabes? - respondo eu, furtivo, com outra pergunta.
Se soubesse, é claro que ela não tinha perguntado.
Por isso cala-se.
Os silêncios tristes fecham janelas dentro das mulheres.
Até que se perdem dentro da sua escuridão como numa câmara escura em que se revelam.
Perdemos uma mulher quando ela sai de dentro de si por uma porta diferente da que entrou.
As paixões morrem porque as mulheres fazem mil perguntas e nós, agitados, quase nunca sabemos as respostas certas.
Não está na condição da sensibilidade feminina viver sem perguntar.
E os homens, que não foram geneticamente preparados para aguentar a pressão metódica das perguntas, abrem feridas com as respostas...

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