terça-feira, 6 de março de 2012

Tudo é de Deus, menos o pecado

Isto implica o esforço natural e necessário de conseguir e manter o amor: um decotezinho mais brejeiro, batom Anaconda de brilho, um puxadinho de nada a lápis crayon no cantinho dos olhos, fazer aquela cara que eu sei fazer, pondo minha alma todinha num certo modo de baixar e levantar os olhos, primeiro oblíquo, depois direto. 
Porque eu gosto da humanidade, em particular da representação masculina da humanidade. 
É muito divertido comerciar com os homens, estimulante como nenhuma outra coisa é. 
Eles ficam encantadores, querendo pegar a gente em falso. 
Isso o homem comum. 
Imagine os santos! 
Fico em estado de loucura, tentação tentada. 
Tem coisas que eu faço bem. 
Posso fazê-las mesmo? 
Tudo é de Deus, menos o pecado. 
Você que me escuta e tem coração maldoso, ri pra dentro pensando que eu sou fácil. 
Não sou. 
Eu sou muito pedregosa, caçadeira de chifre na cabeça de cavalo, caçadeira de indaca. 
Invez de casar e cuidar dos filhos, pôr espinafre moído na sopa deles pra eles ficarem fortes, pregar com linha dupla os botões na camisa do meu homem, eu fico teologando em latim, fico querendo um Romeu constantemente na minha janela, falando e tocando violão pra mim como se eu fosse a única mulher desta terra e a mais bonita, sem a qual homem algum pode viver. 
Ó meu Deus, no fundo é só isso mesmo que eu quero, é só por isso que tantas vezes uso Seu Santo Nome, em socorro do meu humano amor. 
É usá-lo em vão? 
Eu quero a santidade na reunião de literatos discutindo a metáfora. 
Eu pressinto que pode.

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