segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Carta para um amor virtual

Não sei bem o que há em ti que me atrai tanto.
Decerto que não tens a beleza 
de um Apolo 
e, no entanto,
não consigo resistir ao conforto do teu colo.
Tampouco é o excesso de testosterona 
que me impressiona. 
Não vislumbro em ti as características
De um macho alfa tradicional: forte, seguro,
Autossuficiente e mantenedor,
Sonho de consumo da mulher supostamente fragilizada,
Dependente e oprimida de antigamente.

Não és especialmente afetuoso ou doce
Nem sensível o suficiente 
Para forjar em mim um átimo de instinto maternal e protetor.
Aliás, te mostras frequentemente egocêntrico,
tinhoso, 
rude e manhoso,
mas isso- como diria Cazuza, faz parte do teu show –
é da leveza da tua essência, e também me cativou!

Não tens, realmente, 
perfil de protagonista de romance. 
Combinas mais com um conto breve, 
Guarneces melhor uma alegoria... 
trazes contigo algo de lúdico 
de lírico, 
de onírico!

Queres saber se te amo?
Não. Não amo a ti, propriamente.
Amo a tua malandragem sedutora,
Amo o que despertas em mim- essa coisa nova de flertar com o pecado 
E as loucuras que me levas a cometer,
Sem medição de discernimento.

Amo a fêmea faminta de espírito libertário
Que se rendeu à força da natureza.
Amo a mulher que tu revelaste -
esta, que manifesta sentimentos, desejos e carências
Com coragem, autenticidade e transparência!

Amo a ideia de estar apaixonada,
A quimera compartilhada,
E a possibilidade de esquecer quem sou
E quem tu és, para vestir a roupa que nos cabe,
Sem maiores pretensões, sem peias, sem conflitos.

Não te quero namorado,
Muito menos esposo;
Nem mesmo sei se te quero amante.
Não me arrisco adoecer a ilusão;
Não me atrevo a pôr nódoas na poesia.
Profaná-la com a crueza da rotina,
e com o desafio das lutas cotidianas 
quebraria o encanto; desfaria a magia!

Contento-me, pois, com a utopia 
Das aventuras românticas - hollywoodianas.
É carnaval, e ultimamente, 
Ando em união estável com a fantasia.

[Walesca Cassunde]

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