Fiquei todo abalado com o teu De braços abertos.
Fiquei com perguntas assim: será que isso que a gente chama de amor se passa sempre fatalmente em dois níveis?
O da fantasia, da emoção real, poética — e o da realidade que descamba para a agressividade, para a dureza?
Por que, na segunda-feira, eles (nós) não revelam a carência do fim de semana e se dizem coisas duras? Realmente, por que, afinal?
Se não seria mais fácil se a verdade pudesse fluir?
Um pouco mais além: mas será que a verdade poderia mesmo fluir?
Será que verdade e fluência não se opõem, contrapõem?
E coisas como: amor existe mesmo?
Ou só existe o permanecer de braços abertos, como no sonho de Luisa (esse sonho podia perfeitamente ser meu), pronto (a) a receber alguém que nem sequer chega a tomar forma?
E quando alguém, no plano real, toma forma, a gente imediatamente projeta toda aquela emoção presa na garganta do sonho.
E fatalmente se fode, porque está tentando adequar/ajustar um arquétipo, uma imagem de toda a nossa infinita carência, nossa assustadora sede, a uma realidadezinha infinitamente inferior.
[Em carta para Maria Adelaide Amaral]
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