terça-feira, 31 de agosto de 2010

Tempo

Minha avidez não quer você à disposição, não estou cobrando mais tempo, não estou reclamando ausência, não estou cobrando e nem reclamando nada, isso não nos cabe...e digo isso por que algo me diz que foi isso que você entendeu...

Usei a palavra “afastamento”, mas quis me referir à impressão que você me passa de levantar barreira entre nós...guardando tão pra si os sentimentos, seus pensamentos, sua vida...guardando de mim, logo de mim, que quero tanto conhecer mais e mais e ainda mais que isso.

Não sei quanto tempo haverá pra nós e isso sinceramente não me preocupa nem um pouco...pode acabar tarde, pode acabar nunca, pode acabar amanhã, pode já ter acabado sem que eu percebesse, mas não é esse o fato...mas, embora eu tente as minhas palavras não estão alcançando a minha intenção, o meu desejo de ser compreendida por você, você somente.

A pressa de viver está em mim e me faz bem porque me faz viver as coisas de um modo mais entregue, mais solto...mas isso eu ainda não consegui com você, mas eu quero...e como eu quero. E sabe por que eu quero? Ah, eu digo...

Eu quero porque eu amo a nossa troca de experiência, nossa união de mundos...mossas palavras ora contidas, ora tão soltas...
Amo seu toque, seu cheiro, sua boca, seu lindo sorriso, seu beijo, o prazer que você me proporciona, a paz que sinto quando está perto, a inquietação quando está perto de estar perto...
Então me diz: como não ter pressa de SER feliz?

Às quatro e dez da tarde [Trecho]

Admite ter: amores meteóricos, disfunções metabólicas, cólicas pré-menstruais, delírios ambulatórios, surtos persecutórios, saudades de Minas Gerais. Admite querer: te levar para o Roxy, te agarrar num táxi a qualquer bandeirada, te conduzir num Fox, te passar um fax e namorar na escada. Oh, yeah!!!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Esquizo

Tem um cara dentro de mim
Que faz tudo ao contrário:
Não temo amar, ele se borra
Sou esperto, ele é otário
Não amolo ninguém, ele torra
Acredito em tudo, ele é ateu
Sou normal em sexo, ele tarado
Agito sempre, ele fica parado
sou bacana, ele escroto
quem me faz infeliz e torto
É sempre ele, nunca fui eu.

(...)

Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:

- E daí? Eu adoro voar!

Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

(Prosa e Verso, 1978)

Dos milagres

O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

Do amoroso esquecimento

Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Antes que aCabe

Sei que não fomos tudo que somos capazes de ser, nem demos o que somos feitos para dar; fomos outros muito diferentes de nós mesmos. Não te imaginei terno como te recebi, não sou contida quanto me dei. Fui outra,  te vi outro; não tive o que quis nem dei o que sou. Mas compessou a espera, e no fim do dia eu te trouxe comigo....trouxe a lembranças viva do teu sorriso franco, as tuas mãos leves, teu beijo voraz, teu corpo cálido que me deu mais do que levou de mim...ah, e esses teus olhos...

Sobre fazer gente

Quando eu estiver diante de Deus para prestar contas, e ele perguntar o que fiz durante a vida, para ver se mereço tomar chá com rosquinhas em sua companhia na varanda do céu, aos sábados, direi: um bocado de coisa. Fiz amigos, irmãos, faculdade, festa. Tricô (crochê não), planos, piada e poesia. Fiz amor, não fiz guerra. Fiz de conta e fiz por merecer. Fiz que não vi, fiz por fazer, fiz sem fazer. Fiz chorar. Fiz tempestade em copo d’água. Fiz bolo para vender no colégio e vestido na máquina de costura da minha mãe. Fiz aniversário quase uma centena de vezes. Fiz de tudo para ser feliz. Mas se ele quiser saber do que mais me orgulhei de ter feito, responderei: gente.


Tenho um filho que não fui eu que fiz, já veio pronto: meu enteado. Meu primeiro filho foi, portanto, o segundo. Feito quando quase acreditei que não daria mais tempo. Deu. Hoje sei que havia tempo de sobra. A gente nunca entende direito o tempo do tempo. Depois, fiz minha filha. Não há nada mais poderoso que uma mulher com outra dentro. Costumo dizer que tenho, então, três filhos. Dois que saíram da barriga e um que entrou no coração. O que, no final, dá no mesmo. Tatuei seus nomes no verso do meu corpo. Publiquei o amor.

Brinco que quando se tem filhos a vida vira de ponta-cabeça. De cabeça para baixo a gente enxerga as coisas de outro jeito, é só fazer um teste na sala de casa. Com filhos, nos despedimos do sono tranquilo, do umbigo próprio, da vida no singular. Dizemos ‘até logo’ para a carreira. Por outro lado, damos boas-vindas aos novos personagens dos sonhos, às diferentes formas de trabalho, à vida no plural.

Fazer filhos é um processo artesanal. Sai um diferente do outro. Uma falhinha aqui, um defeitinho ali. É justamente esse o charme. Quando se decide fazê-los, não se sabe como eles virão. A vida não tira pedido. É tudo surpresa. Não há acasos, porém. Filhos são exatamente como precisamos que eles sejam, e vice-versa. Disso não se deve duvidar, muito menos reclamar. É bom repassar essa lição de vez em quando.

Gosto de ver meus filhos dormindo com o pai. Assim posso decorá-los com calma. Gosto de vê-los tomando banho. Gosto, sobretudo, de vê-los desenhar. Nessa hora eles recriam o que já esqueci. Gosto quando contam histórias sem sentido e fazem associações malucas. Gosto quando aprendem coisas novas; no fundo, estão é me lembrando que não tenho feito isso. Gosto quando cantam fora do tom, inventam notas e vão montando a trilha sonora das suas vidas. Gosto de reconhecê-los pelo cheiro e pelo gosto. Gostaria de carregá-los pelo cangote, como fazem as gatas. E gosto de ver o que não via antes deles.

Perguntaram se os filhos me abriram novos olhos para o mundo. Eu disse que não. Meus olhos são os mesmos de antes. Tudo que fiz foi mudar a direção do olhar.


Texto disponível aqui.

Trecho V (Do Desejo)

Águas. Onde só os tigres mitigam a sua sede.
Também eu em ti, feroz, encantoada
Atravessei as cercaduras raras
E me fiz máscara, mulher e conjetura.
Águas que não bebi. Crespusculares. Cavas.
Códigos que decifrei e onde me vi mil vezes
Inconexa, parca. Ah, toma-me de novo
Antiqüíssima, nova. Como se fosses o tigre
A beber daquelas águas.

Trecho III (Do Desejo)

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Esperta

Loira.
Cabelos Lisos.
Vestindo rosa.
Comum.
Não fosse a frase estampada na camiseta.
"Sou esperta e estou segura. Só transo com camisinha."
...
O que era pra ser um alerta contra AIDS, parecia na verdade um convite.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Olga de Volta

Não empresto livro, não existe quem devolva. A generosidade é uma alucinação. Eu agora compro um novo exemplar e dou de presente. Já apanhei da minha ansiedade. Desisti de cobrar, e ouvir a desculpa mais esfarrapada.
Renunciei a metade da biblioteca alcançando obras a colegas — tamanha a euforia com o que li. Não captei a mecânica da maldição: sempre que passo adiante uma obra, o amigo some e desaparece. A gente falava toda semana, de repente ele muda de paradeiro, telefone, personalidade.
Emprestar um livro é o início do desaparecimento. É o suicídio do Orkut.
Ele ganha o livro, eu perco o amigo. Foi assim com Francisco e Esculpir o tempo, de Tarkovski, com Renato e Gramática expositiva do chão, de Manoel de Barros, e com Paula e Alguma poesia, de Drummond, entre centenas de relações extintas.
E não emprestamos algo de que não gostamos, é de nossa preferência, de nossa estima. Não duvido que seja uma primeira edição, numerada e com autógrafos. Por isso, dói o remorso.
O livro emprestado nunca será lido — é aquele que legaremos para depois porque não há pressa. Compraremos outros durante o período, que assumirão a preferência na fila da cabeceira. É impressionante o quanto boicotamos sua presença. Torturamos de espera e de silêncio. De propósito, para testemunhar a saudade de seu dono. É como o amor não-correspondido de uma conhecida. Sabemos que ela nos ama, mas fingimos que é uma novidade. Fazemos de conta que não reparamos nos sinais.
Talvez o livro emprestado seja a vingança a todas as multas recebidas nas bibliotecas das escolas e da universidade. Uma desforra adolescente ao azedume dos bibliotecários de avental. Um trauma pelos cinco dias obrigatórios de leitura. Pelo bolso de datas na última página. Pela mesada consumida nos atrasos reincidentes.
O pai, por exemplo, colocava carimbo na folha de rosto para garantir a reintegração de posse dos seus latifúndios de papel. Não adiantava nada: o movimento do sem-livro invadia suas estantes e não ressarcia os hectares de ar. Tampouco assinar o nome no verso da capa criava compaixão — apenas aumentava a vontade de não devolver.
Minha crença foi rompida neste mês. Ainda estou me recuperando. Quisera apagar da memória o que aconteceu e continuar desesperançado. É mais complicado ser otimista. Fui autografar Mulher Perdigueira em São Paulo. Na recepção, encontrei Inês. Não lembrei quem era Inês de supetão, fui me lembrando aos poucos, frame a frame, gesto a gesto. Os cabelos cacheados me ampararam — a sorte é que ela não inventou de pôr chapinha. Inês? Inês! Colega da faculdade! Seus olhos de mel puxaram a ferroada. Ela me entregou um envelope pardo. Dentro, Olga, de Fernando Morais.
— Toma, é seu!
— Meu?
— Sim, você me emprestou na cadeira de Jornalismo.
— Está brincando?
— E me disse na época: “Getúlio deportou Olga para a Alemanha nazista, portanto tem a obrigação de trazê-la de volta”.
Mergulhei numa vertigem retrospectiva, numa prévia de coma. Passaram vinte anos que cedi para um trabalho numa atividade de rádio. Ela não esqueceu: pelo contrário, carregou seu peso com a expectativa de me rever. Morou no Rio de Janeiro, em Salvador, casou, descasou, e não se desvencilhou do pacote. Quando viajava, levava junto, aguardando um encontro acidental.
Ela me devolveu — mais do que um volume — o cuidado com a amizade.
Pena que não recordava de quem eu tinha tomado emprestado esse livro.


Disponível aqui.

Duplo Sentido

A sensualidade é a infância da vida adulta. Ou alguém ainda duvida que sexo é brincadeira?
Uma palavra certa e a vontade não larga mais o pensamento. Quando a namorada sugere que é lasciva, eu não me contenho, junto imediatamente as pernas e fecho o tórax. Lasciva é uma palavra muito rápida, entra direto no sangue. Derrubo minhas defesas também diante de “assanhada” e “safada”. Um amigo não pode escutar lúbrica que abandona sua carreira.
A audição se desespera com a realidade paralela dos vocábulos. Sou da turma do sexo falado. Não me permito pecar quieto. Saio para pescar na conversa.
Gemer em silêncio somente na masturbação, tampouco partilho da crença da música ao fundo. Reivindico a gritaria, as frases doidas, o acinte animal. O ritmo vem unicamente da respiração e da falta dela.
É um efeito colateral da minha geração. O carro foi o primeiro quarto, o sofá foi o primeiro hotel. Não encontrava tanto conforto para transar, necessitava arretar semanas e convencer a menina que valeria a pena, que só seria um pouquinho, que deixasse entrar. Aproveitava a saída dos pais para explorar a solidão lisa do seu corpo. Era um suspense, uma vertigem. Qualquer ruído na porta modificava o embalo da cintura. Procurava me manter perto das almofadas. Desde a adolescência, fui preparado para o flagrante. Cresci sob a pressão da maçaneta.
Sexo não acontecia com tranquilidade, despir dependia do pôquer da dicção. Falava algo bonito para retirar o sutiã dela, falava algo perigoso para arrancar a calça, amor eterno somente com a calcinha, e ainda existiam frequentes recuos de pudor. Muitas vezes, ela terminava mais vestida do que quando a gente começava. Nem sempre dava certo. Uma frase oportunista e indiferente puxava o freio de mão. Ela deveria entender que eu amava, que não me aproveitava de sua ingenuidade, que permaneceríamos juntos. Sexo exigia convencimento, persuasão erótica, promessas de Lagoa Azul.
Brincar com o duplo sentido continua um jogo favorito. Enrijeço na disputa de insinuações. É dizer e não dizer, é despertar o lençol na toalha de mesa, é atiçar a curiosidade dos dentes com a língua, pesar a pálpebra para espiar o vão da voz.
Tenho uma elasticidade incomum para formar dimensões alternativas. Não me contento com nada direto, tipo uma mulher confessando que vai beber todo o chantilly do café. Isso é pornografia. Viajo além. Se ela comenta que procura um mouse retrátil, fico louco. Retrátil? Eu me ponho em movimento. Já quero ser retrátil.
O Aurélio é meu Kama Sutra.

Crônica disponível aqui.

Guarde-me em seu colar

Ela põe os brincos na cômoda para não me machucar, assim como aparo a barba para não esfolar seu rosto.
Estamos desarmados.
Já sabemos o que vai acontecer, não sabemos como, nunca sabemos como. Ela pode estar mais pura ou mais sarcástica. Pode raspar os dentes antes de beijar ou me contornar com a língua e deixar que meu gemido indique o lugar de sua boca. Posso receber sua precipitação ou sua paz.
Quando transo com minha mulher, temo perder a memória. É para esquecer datas, lugares, nomes. Somos desmemoriados pelo excesso de desejo.
A memória é covarde, não entra em algumas cidades, a imaginação segue sozinha, como sempre.
O que mais me excita é que ela não tira o colar. Nua, branca, sinuosa, resiste com o colar. Já largou a calcinha e o sutiã, e não o colar. Ela é impetuosa, pisa em suas roupas quando vem em minha direção, mas não se afasta do colar. Não se esconde nas cobertas, pede que eu a olhe, que eu a admire, que eu tenha consciência com quem estou lidando. Não há timidez mais, não há timidez na fome. Ela me encara com suas contas no pescoço. Já nos conhecemos demais e isso aumenta o mistério. A intimidade é perigosa porque é capaz de ferir para aumentar a fragilidade. A surpresa somente existe na intimidade. Intimidade é a confiança dentro do medo.
Ela não sobe e desce. Subir e descer não requer arrebatamento - é angústia dos apaixonados. O que ela faz é diferente: ela anda pelos lados. Ela ladeia em mim. Monta em círculos. Como se a cama não tivesse fim ou borda. Como se minha nudez fosse a sua e ela se devolvesse.
Não aumenta os movimentos, desobedece ao vento, diminui, desacelera. Brinca em se despedir. Como se alguém fosse entrar naquele momento pela porta. Como se ouvisse um barulho estranho e parasse. E não chega ninguém, e rebola, os lençóis perto são sua saia, ela me desafia a ver o que está vendo - nos assistimos por um tempo para criar saudade antes da lembrança.
O colar balança, seus seios seguram minhas mãos. Não é aturdida de pressa, não pretende se livrar do meu cheiro, ele me agride com as palavras e me acalma com seu movimento. São duas mulheres conversando com o meu corpo, brigando pelo meu corpo, indecisas, a que liberta pela fala e a que me prende pelas pernas. Eu não entendo para onde vou, e me seguro na confusão.
Não pergunto quando vai gozar. Ela morderá o colar. Morderá com força. Nada mais deslumbrante do que uma mulher mordendo o colar para não gritar. Um dia ainda verei as pedras partindo de seus olhos.
Seu colar é minha coleira.

Disponível no blog do autor.

Cartaz

Disponível no blog do autor

Frases soltas

Machucamos com a voz, mas para torturar mesmo só com o silêncio. Não quero estar presente quando você sentir falta de mim. Não valorizamos porque sofremos, valorizamos para parar de sofrer. Dor nenhuma se transforma em lembrança, mas em pressentimento. O ciúme é o antivírus do amor. Metade das ofensas é por vaidade, pois ninguém reparou na gente. A outra metade é por megalomania, porque a gente não foi elogiado. Não é falando que encontramos as palavras. É deixando de falar. Nunca reagimos bem quando finalmente acontece o que esperamos tanto. Indiferença: não merecer uma resposta. Desprezo: não merecer nem a pergunta. Se a gente deseja ser feliz é egoísmo, se a gente deseja que o outro seja feliz é renúncia. É fácil reunir as forças. Sábio é quem reúne suas fraquezas. Diante da felicidade, nunca digo que não a mereço, ela pode concordar comigo. A independência estraga a paixão. A paixão só funciona no cativeiro. Humildade não é aceitar a crítica, mas se envergonhar diante do elogio. Quem se engana consegue ser - ao mesmo tempo - inteligente para esconder a verdade e burro ao não encontrar o esconderijo. Todo mundo quer ser equilibrado, mas o amor é puro desequilíbrio. Tudo o que amei nunca terá retribuição - e é justamente o que me torna livre.
Deseja que o homem ligue no dia seguinte? Diga que a noite passada foi péssima. Ele vai implorar por uma nova chance. Um mulher não mostra sua TPM para qualquer um, é prova de confiança. Todo sono merecia a intensidade da soneca do despertador. Os melhores sonhos ocorrem nos 5 minutos que a gente tenta dormir mais um pouco. É insuportável homem que chama a mulher de 'cara'. Os dois lados da moeda não funcionam. O verdadeiro amigo não exige desculpa. Voltar a conversar já é o suficiente. Decência nada tem a ver com os outros, é respeitar a si mesmo. Não há maior solidão do que se arrepender tarde demais. Só encontro minha fé quando perco algo. A felicidade não consulta o dicionário. Depois da tormenta, como se nada tivesse acontecido, como se o destino fosse um parente desconhecido, irei recomeçar. Fidelidade significa não dar chance para pensar depois. Amar não é acumular, é decidir. A maior parte dos casais quer permanecer casado e não desistir da vida de solteiro. Muitos escolhem a solidão porque simplesmente não suportam sua infelicidade com testemunhas. Tentar entender tudo é loucura. O louco não aceita a casualidade. É provocando os demônios que os anjos aparecem. Só é natural quem não ama. Somos despojados quando não temos interesse. Esperar o castigo sempre foi o maior castigo. Quem é anônimo para atacar já percebeu que não merece o próprio nome. O amor é tão arrogante que não aceita virar amizade. O problema da mentira é que ela não tem dúvidas. A melancolia é um orgulho triste. Toda insônia é educada, nunca chega sem avisar antes por algum pesadelo. O maior suspense não vem das histórias de terror, mas dos contos de amor. Amar é uma matemática invertida: acertar o resultado errando o cálculo. Sede mesmo é provocar seu sofrimento para beber as lágrimas. É curioso: quem guarda papel-presente é avarento e não costuma dar presentes com regularidade. Tentar entender o outro como a gente se entende ainda é não sair de si mesmo. Quem diz que foi a última vez vai repetir. Ninguém avisa quando é a última vez. Excesso de compreensão enjoa - parece desinteresse. Não fico irritado com a discordância, o que me enerva é aquele que concorda com tudo. Há gente que planeja tanto sua vida que é capaz de não aceitar felicidade que não foi convidada. O bom humor só existe para quem não deixa uma dor pela metade. O deprimido interrompe o sofrimento já no início para sofrer mais depois. Toda vez que lembro de você eu me invento. Um teste para desmascarar o sádico: pergunte sobre um filme qualquer e ele vai contar justamente o final. Vamos nos separar depois que a gente olha para cima na transa e repara nas infiltrações. O motel que é preventivo, com espelho no teto. O apaixonado é um espelho. É só no amor que ele vira janela. Por precaução, moro no térreo. O pessimista acredita mais em si do que o otimista. O otimista acredita nos outros. Vivemos procurando a paz, mas a alegria nunca parece calma. No amor, há uma tendência masoquista de pensar que o elogio é uma mentira e que a reclamação é a verdade que finalmente aparece. Escritor é fofoqueiro. Fofoca até o que acontece em sua imaginação. Beijar os olhos é devolver o que não foi visto em todos os beijos.

Parâmetro

Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo.

Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

De outras sei

De outras sei que se mostram menos frias,
Amando menos do que amar pareces.
Usam todas de lágrimas e preces:
Tu de acerbas risadas e ironias.

De modo tal minha atenção desvias,
Com tal perícia meu engano teces,
Que, se gelado o coração tivesses,
Certo, querida, mais ardor terias.

Olho-te: cega ao meu olhar te fazes ...
Falo-te — e com que fogo a voz levanto! —
Em vão... Finges-te surda às minhas frases...

Surda: e nem ouves meu amargo pranto!
Cega: e nem vês a nova dor que trazes
À dor antiga que doía tanto.

Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto.

Sobre eles.

Ela afundou o corpo nele o mais que pôde, como se assim pudesse aprisionar um instante, como se assim pudesse aprisionar o amor. E ele, querendo as respostas que a vida não lhe entrega e que só uma mulher é capaz de abrigar dentro de si, puxou os seus quadris com a ânsia de escorregar para dentro dela e ali ficar. Só uma fêmea é capaz de dividir-se assim ao meio: a metade de baixo a sobrepor-se forte, desfalecendo as resistências do macho e a de cima a ampará-lo doce, beijando e acarinhando os medos de um filhote.

Dos cílios.

Os cílios agarraram-se às pálpebras quando tentei fechar meus olhos. Mas você assoprou e todos voaram. De novo nasceram e de novo voaram. Não faça mais isso! Quem vai cortar a lágrima em fatias no dia em que você for embora?

Sobre as estrelas.

Deitada na grama, o céu empoeirado de estrelas. Passei o dedo e - curioso - algumas vieram grudadas na ponta. Olhei para cima e assoprei. Foi tanta estrela caindo que agora eu mal consigo enxergar de tanta esperança.

Vários.

— E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
— Ah. Porque eu sou tímida.

Sim, eu sei.
Pode parecer maluquice,
mas eu vou mesmo desparafusá-las
e arremessá-las no jardim.
Mesmo que elas não possam voar,
ficarão entre as flores,
o devido lugar de borboletas paralíticas.
Não suporto mais essa idéia de abrir a janela,
levantar os vidros e vê-las ali,
disfarçadas de dobradiças.

Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas.

Vivo tão intensamente o momento, que quase chego atrasada ao momento seguinte.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Para E, que não tem senso de adequação.

Minha cara,
Recebi hoje o seu convite no meu Orkut e não pude deixar de me perguntar sobre as suas intenções reais, afinal mal nos conhecemos e, a bem da verdade, nem mesmo nos gostamos...nos tolerávamos e isso é tudo, e a tolerância vinha do fato de termos algo em comum, ou melhor, tínhamos alguém em comum: o homem que esteve presente no seu passado e que fazia parte do seu presente-por ser pai da sua filha-era por ironia o meu presente e meu futuro; mas hoje é tão parte do meu passado, como marido, quanto é do seu...talvez menos até, já que não temos nada que nos amarre, como dizia a sua amiga N, coisa que eu de fato até agradeço agora (transmita isso a ela quando possível, por favor).
E a resposta ao seu convite é não.
Absolutamente não.
Um 'não' sonoro e redondinho.
Não, de não quero você fuçando minhas fotos.
Não, de não quero você próximo dos meus amigos.
Não, de não quero você analisando as minhas frases.
E por fim o maior não é de não quero mais você me rodeando.
Por não ter os filhos que a sua amiga mencionou eu posso me dar o prazer que você não pode, e que também não quer: eu posso ser definitiva.
E sendo definitiva eu posso, definitivamente, não querer você na minha vida e certamente eu não quero.
Viva com isso, até porque eu consigo viver perfeitamente sem...sem nenhum dos dois, diga-se de passagem.
Espero que isso explique de modo razoável porque eu não apareço na sua lista de amigos e que torne desnecessária a sua insistência.

A tristeza é feia e quer casar [Silmara Franco]

Está no dicionário: Tristeza: [Do lat. tristitia.] S.f. 1. Qualidade ou estado de triste. 2. Falta de alegria. 3. Pena, desalento, consterna...