domingo, 29 de maio de 2011

Toda terça

- É isso que te faz diferente das outras mulheres?
- Não é suficiente? A falta total e completa de desejos masoquistas, eu não me interesso por humilhações.
- Mas, Laura, o que é humilhação para você?
- Ah, humilhação é quase tudo, quer coisa mais humilhante do que amar e não ser correspondido? Esse papo de que amar é o mais importante é conversa para boi dormir, objetivo de quem quer ser Buda, Cristo, madre Teresa de Calcutá, amar, grande porcaria, ah, Otávio, amar é uma merda, bom mesmo é ser amado, isso é na realidade o que importa, se você ama ou não é um detalhe, aliás, o melhor é não amar.

Fazes-me falta

Lembro-me da tua fúria, anjo ciumento, quando me encontraste conversando placidamente com a rapariga de corpo de manequim, afinal nada tresmalhada.

 - Não vês que essa mulher te usou?

Usou-me, sim, Sininho, como eu usei a ela, como nos usamos todos. A vida consiste nisso mesmo: em que nos usemos, da melhor maneira que pudermos. Usei-te eu como devia? Porque me sobras tanto, ainda?

Onde é que você estava

Hoje eu tenho a minha lira
Tenho paz, não admira
Que você venha me procurar
Os meus males são pequenos
Vivo bem, não é pra menos
Que você vem me encontrar
Mas quando eu tanto precisava
Meu amor, como é que é
Onde é que você estava

Fazes-me falta

Talvez trouxesses ainda o cheiro de algum dos teus amantes - eras uma verdadeira Torre do Tombo passional, e estavas sempre disposta a ir repescar uns dados esquecidos a uma pasta antiga.

Os íntimos

Jamais pedi um beijo. Em menina eu os dava, simplesmente. Agora tenho remorsos desse beijo que pedi em vez de dar, e você me negou.

Minha Princesa Cordel [Gilberto Gil]

E os desatinos também
Tivemos que vivê-los bem juntinhos
E os caminhos nos
Trouxeram para este lugar

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor sem nojo nem medo, e de alguma forma insana esperam a volta dele.

domingo, 22 de maio de 2011

Cavaleiro Andante [Carlos Tê e Rui Veloso]

Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras
Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe
Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou
Sempre que a rádio diga
Que a américa roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua
Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz
Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau

Amplidão [Chico César]

Deixa eu te guardar, a casa é sua
Faz em mim teu lar, me reconstrua
Queira me habitar onde eu me escondo
Faz deste lugar só seu no mundoEu quero ser onde você sossega a alma
E chora e ri
E encontra a calma pra sonhar, sem dormir
Vem acender as luzes que iluminam o meu coração
Vem ter comigo sua parte da amplidão
De minha parte, eu estou aqui...
Eu quero ser onde você sossega a alma
E chora e ri
E encontra a calma pra sonhar, sem dormir
Vem acender as luzes que iluminam o meu coração
Vem ter comigo sua parte da amplidão
De minha parte, eu estou aqui... aqui...

[Cantada por Elba Ramalho]

sábado, 14 de maio de 2011

Os homens tem sempre uma vida dupla. Eles tem sempre um lado B. É por isso que eles são sempre mais distantes da vida concreta do que as mulheres.
As mulheres tem uma relação com o aqui e o agora que lhes permite lidar com uma série de situações diante das quais o homem é muito mais incapacitado porque ele tem uma presença constante do lado B.
E não é só o lado B sexual, o lado B de qualquer coisa, o lado B do devaneio do que ele poderia ter sido, vir-a-ser, ou simplesmente ser.
Se as mulheres soubessem o que se passa na cabeça de um homem, inclusive no momento em que ele está transando com ela, eu acho que elas levantariam da cama ultrajadas.
Fiquei todo abalado com o teu De braços abertos.
Fiquei com perguntas assim: será que isso que a gente chama de amor se passa sempre fatalmente em dois níveis?
O da fantasia, da emoção real, poética — e o da realidade que descamba para a agressividade, para a dureza?
Por que, na segunda-feira, eles (nós) não revelam a carência do fim de semana e se dizem coisas duras? Realmente, por que, afinal?
Se não seria mais fácil se a verdade pudesse fluir?
Um pouco mais além: mas será que a verdade poderia mesmo fluir?
Será que verdade e fluência não se opõem, contrapõem?
E coisas como: amor existe mesmo?
Ou só existe o permanecer de braços abertos, como no sonho de Luisa (esse sonho podia perfeitamente ser meu), pronto (a) a receber alguém que nem sequer chega a tomar forma?
E quando alguém, no plano real, toma forma, a gente imediatamente projeta toda aquela emoção presa na garganta do sonho.
E fatalmente se fode, porque está tentando adequar/ajustar um arquétipo, uma imagem de toda a nossa infinita carência, nossa assustadora sede, a uma realidadezinha infinitamente inferior.

[Em carta para Maria Adelaide Amaral]

Desejo

Desejo você com cada pedacinho do meu corpo. Desejo seu beijo, desejo seu toque. Mas, acima de tudo, desejo o seu desejo.
O seu desejo me move, me inflama...transforma em incêndio o que já era uma chama.
Com a chama eu já lhe desejo com muita força, mas com um incêndio... ai, ai... com um incêndio eu me transformo no que queres que eu seja. Seja quieto e ingênuo como um virgem ou seja jocoso e safado como se estivesse sendo pago. De fato, eu cobro pra ser assim... e você paga com o uma moeda que apenas nós conhecemos...
Sempre serei seu homem e amo-te. Amo-te com todas as forças. Amo desejar você... e amo o seu desejo.

Humano, demasiado humano

Pandora trouxe o vaso que continha os males e o abriu. Era o presente dos deuses aos homens, exteriormente um presente belo e sedutor, denominado “vaso da felicidade”. E todos os males, seres vivos alados, escaparam voando: desde então vagueiam e prejudicam os homens dia e noite. Um único mal ainda não saíra do recipiente: então, seguindo a vontade de Zeus, Pandora repôs a tampa, e ele permaneceu dentro. O homem tem agora para sempre o vaso da felicidade, e pensa maravilhas do tesouro que nele possui; este se acha à sua disposição: ele o abre quando quer; pois não sabe que Pandora lhe trouxe o recipiente dos males, e para ele o mal que restou é o maior dos bens – é a esperança. – Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens.
Os outros eu conheci por ocioso acaso.
 
A ti vim encontrar porque era preciso.
Não há memória mais terrível do que a da pele; a cabeça pensa que esquece, o coração sente que passou, e a pele arde, invulnerável ao tempo.
Noites atrás eu sonhei que sonhava. E, dentro do sonho do meu sonho, estava você. Como sempre, linda. Seguravas um cactus lilás de espinhos roxos que, por alguma razão, lhe parecia a coisa mais perfeita do mundo.
Você sorriu pra mim e me disse que me amava. Acordei, assustado... mas acordei dentro de outro sonho.
E sei lá que sensação louca é essa de que fica mais real por ser um sonho dentro do outro... meio louco.
Foi bem real. E pra variar, tentei voltar a dormir pra continuar no sonho do sonho... sem sucesso.
Quem sabe uma hora eu acabe descobrindo que tudo isto aqui não passou de um pesadelo e que, ao acordarmos, tudo ficará como nunca devia ter deixado de ser.
Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... E não a gente a ele!
E _ TER _ NA _ MENTE . . .
T
E
R
N 
A
M
E
N
T
E
.
.
.

Trilogia Suja de Havana

É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, para nossa sorte, a saudade possa transformar-se, de algo depressivo e triste, numa pequena chispa que nos dispare para o novo, para entregar-nos a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas que será diferente. E isso é o que procuramos todo dia: não desperdiçar em solidão a nossa vida, encontrar alguém, nos entregar um pouco, evitar a rotina, desfrutar da nossa fatia da festa.

Onde é que você estava [Chico Buarque]

Hoje eu tenho a minha lira
Tenho paz, não admira
Que você venha me procurar
Os meus males são pequenos
Vivo bem, não é pra menos
Que você vem me encontrar
Mas quando eu tanto precisava
Meu amor, como é que é
Onde é que você estava
Onde é que você estava
Pelas tardes, sempre em vão, procurei
Fiz alarde de paixão que penei
Pela ruas tortas
Que eu percorria
Vi bater as portas
Vi morrer os dias
Pelas noites sem luar, eu errei
Pelas tantas da manhã, eu cansei
Não restou mais nada
Das lembranças minhas
Nas encruzilhadas
Nem nas entrelinhas

domingo, 8 de maio de 2011

Pega Vida [George Israel e Paula Toller]

Em alguns bilhões de anos
Vamos nos mudar daqui
O sol vai explodir
E a terra vai sumir
As idéias muito simples
São difíceis de aceitar
Ir à praia
E mergulhar no mar
Antes de tudo se acabar
Quando o céu tá carregado
É sinal q vai chover
Não é tão complicado
Ter prazer em dar prazer
Pega vida em mim
Tenta a sorte em mim
Salva o q é seu em mim
Pega vida em mim
Zera o jogo em mim
Cuida do q é seu em mim
Não é bem felicidade
Mas ainda fico a fim
Querer o q se pode
É liberdade sim
As idéias muito simples
São difíceis de aceitar
...dar um beijo
E se deixar levar
Antes de tudo se acabar

A tristeza é feia e quer casar [Silmara Franco]

Está no dicionário: Tristeza: [Do lat. tristitia.] S.f. 1. Qualidade ou estado de triste. 2. Falta de alegria. 3. Pena, desalento, consterna...