Em lugar da lista de promessas e pedidos, percebo que há motivos para uma de agradecimentos, e estes são tão numerosos que seria possível virar o ano listando (coisa que não farei). Reconheço que foi um ano muito difícil; minha família sofreu golpes duríssimos, mas que serviram para provar algo que minha mãe afirma sempre: "somos feitos de outra massa"...sábia Helena! Chegamos ao fim deste ano mais fortes e mais unidos, e muito felizes por podermos contar sempre uns com os outros. E que venha 2011!
"Lαdo α lαdo com o desejo de defender α própriα intimidαde, há o desejo intenso de me confessαr em público e não α um pαdre." [Clαrice Lispector]
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Revanche
01
Homem: Eu queria te ligar, qual é o seu telefone?
Mulher: Está na lista.
Homem: Mas, eu não sei o seu nome.
Mulher: Também está na lista, na frente do telefone.
Homem: Mas qual é o anúncio? Acompanhantes ou aluguel de tratores?
02
Homem: Será que eu já não te vi em algum lugar?
Mulher: Claro! Eu sou a recepcionista da clínica de doenças venéreas.. Não se lembra?
Homem: É isso mesmo! Você até me falou que estava pagando o seu tratamento com trabalho!
03
Homem: Então, o que você faz da vida?
Mulher: Eu sou travesti.
Homem: Já tinha percebido! Você esqueceu de fazer o bigode!
04
Homem: A gente já não se encontrou em algum lugar antes?
Mulher: Já, e é exatamente por isso que eu não vou mais lá.
Homem: Eu também nunca mais voltei, aquele puteiro só tem mocréia.
05
Homem: A gente vai para a sua casa ou para a minha?
Mulher: Os dois. Você vai para a sua casa e eu vou para a minha.
Homem: Que pena! É que minha empregada foi embora e eu pensei que você pudesse ir lá em casa fazer uma faxina.
06
Homem: Este lugar está vago?
Mulher: Está, e este aqui onde estou também vai ficar se você se sentar aí.
Homem: Obrigado, estava mesmo precisando de dois lugares, minha noiva já está chegando!
Depois de 25 anos de casamento, a mulher resolveu tentar resgatar o interesse do marido e vestiu a mesma camisola que usou na noite de núpcias.
- Amooor… – sussurrou ela, com voz ‘lânguida’ – (essa voz é interessante) – Lembra dessa camisola?
O marido tirou o olho do jornal e disse:
- Sim. É a camisola que você usou na nossa lua de mel! Por quê?
- E você lembra do que você me disse naquela noite, quando me viu com essa camisola?
- Sim, me lembro! – respondeu o marido – Eu disse: ‘Você está maravilhosa nessa camisola, Clarice! Quero transar com você até te deixar ACABADA!!!
- E agora, depois de tantos anos, o que você tem a dizer?
O marido olhou a esposa de cima a baixo e disse:
- Missão cumprida !!!
domingo, 26 de dezembro de 2010
O que você viu naquele cara?
- O que você viu naquele cara?
- Cara?! Que cara?! - Ana arqueava as sobrancelhas sem entender ao certo o que Lúcio quisera dizer, assim, de súbito. Era horário do almoço, e nessas horas, o pátio da escola ficava apinhado de gente, e, devido a isso, ficava um pouco impossível de entender algo se a pessoa não gritasse. Mas não era isso, Ana estava se fazendo de desentendida naquele momento.
- Aquele Cara!!! - Lúcio apontava para um garoto de óculos. Altura mediana, olhos castanhos amendoados. Parecia muito tímido, absorto em seus pensamentos com algo que não seria de interesse algum de nenhuma outra pessoa. Exceto de Ana. Por alguns instantes, o mesmo olhou em direção dos dois, como se percebesse que estes falavam dele.
- Não sei que graça você viu nele! Ele é tão...tão sem sal, tão normal Ana! - Lúcio falava mais em forma de súplica do que de afirmação. Ana riu. De certa forma, se divertia com aquilo. Passou os seus livros para o outro braço, olhando em seguida na direção do rapaz mencionado, fazendo com que seus olhares se encontrassem. Seu rosto ficara rubro, e não aguentando encará-lo, a mesma abaixou a cabeça, desconcertada.
- Ana...Olha pra mim!!! O que aquele idiota tem que eu não tenho?! Qual é o problema?! - Lúcio gritava desesperado. Desde que era uma criança que agia com agressividade, caso as coisas não saíssem de seu modo. Sentia-se com o ego ferido, por ter sido trocado por um garoto que de acordo com o que pensara, não possuía atrativo algum. Isso o irritara, já que este era acostumado a ter todas as garotas aos seus pés. Menos Ana.
Dessa vez, ele puxou o seu braço, deixando os livros desta caírem com um estrondo no chão. Começou a falar mais alto do que seria possível, fazendo um grupo de olhares sobressaltados olharem na direção dos mesmos. E mais uma vez, Lúcio perguntou-lhe:
- Ana, o que aquele idiota tem, que eu não tenho?
Ana encarou Lúcio com um olhar frio e sem vida. Seus olhos podiam ficar bastante gelados quando ela queria. Livrou-se com agressividade dos braços do mesmo, passando a mão pelo vestido, agora amarrotado. E disse-lhe com os dentes semi-cerrados:
- Aquele "idiota" tem, o que você NUNCA vai ter Lúcio! - Proferiu isso abaixando-se para pegar os seus livros, sentindo que estava sendo observada por um monte de alunos que olhavam curiosos em sua direção. Lúcio, ainda irritado, sem entender ao certo o que Ana quisera dizer com aquilo, tornou a pergunta-lhe:
- O que ele tem que eu não tenho?! Ou até mesmo o que eu nunca terei?!
Ana levantou-se passando a mão pelos seus livros para limpá-los, e sem se virar, lançou-lhe mais uma vez um olhar frio por cima dos ombros e proferiu pausadamente:
- O meu AMOR Lúcio!
[Disponível aqui ó.]
O Mágico de Oz
Espantalho: - Eu não tenho um cérebro... só tenho palha.
Dorothy: - Como você pode falar se você não tem um cérebro?
Espantalho: - Eu não sei... Mas algumas pessoas sem cérebro falam de monte... não é?
Dorothy: - É, eu acho que você está certo...
Ex-Mulher
No segundo dia, ela chamou os homens da transportadora que levaram a mudança.
No terceiro dia, ela se sentou pela última vez na bela mesa da sala de jantar, à luz de velas, pôs uma música suave e se deliciou com uns camarões, um pote de caviar e um garrafa de Chardonnay.
Quando terminou, foi a cada um dos aposentos e colocou alguns pedaços de casca de camarão, besuntados com caviar, dentro dos varais das cortinas.
Depois ela limpou a cozinha e se foi.
Quando o marido retornou com a nova namorada, tudo estava um brinco nos primeiros dias.
Depois, pouco a pouco, a casa começou a feder.
Eles tentaram de tudo: limpando, lavando e arejando a casa.
Todas as aberturas de ventilação foram verificadas à procura de possíveis ratos mortos e os tapetes foram limpos com vapor.
Desodorantes de ar e ambiente foram pendurados em todos os lugares.
A empresa de combate a insetos foi chamada para colocar gás em todos os encanamentos, durante alguns dias, durante os quais tiverem de sair da casa, e no fim ainda tiveram de pagar para substituir o caríssimo carpete de lã.
Nada funcionou.
As pessoas pararam de visitá-los.
Os funcionários das empresas de consertos se recusavam a trabalhar na casa.
A empregada se demitiu.
Finalmente, eles não suportavam mais o fedor e decidiram se mudar.
Um mês depois, apesar de terem reduzido o valor da casa em 50%,eles não conseguiram um comprador para a casa fedorenta.
A notícia se espalhava e nem mesmo corretores de imóveis locais retornavam as ligações.
Finalmente, eles tiveram de fazer um grande empréstimo do banco para comprar uma casa nova.
A ex-esposa ligou para o marido e perguntou como andavam as coisas.
Ele disse a ela o martírio da casa podre.
Ela escutou pacientemente e disse que sentia muitas saudades da casa antiga e que estaria disposta a reduzir a parte que lhe caberia do acordo de separação dos bens em troca pela casa.
Sabendo que a ex-mulher não tinha idéia de como estava o fedor, ele concordou com um preço que era cerca de 1/10 do que valeria a casa.
Mas só, se ela assinasse os papéis naquele dia mesmo.
Ela concordou e em menos de uma hora, os advogados deles entregavam os documentos.
Uma semana depois, o homem e sua namorada assistiam, com um sorriso malicioso, os homens da mudança empacotando tudo para levar para a sua nova casa…
…incluindo os varais das cortinas.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
...contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis...
Onde andará Caio Fernando?
O Estado de S. Paulo, 1996.
Impossível não falar do Caio. Do Caio F. Do Caio Fernando de Abreu, morto domingo, depois de passar os últimos meses da sua vida na casa dos pais, em Porto Alegre, num bairro chamado Menino Deus, a cuidar de si e de rosas.
Todos sabíamos que ele ia acabar no Menino Deus. Mas não sabíamos quando. Há mais de um mês ele não escrevia mais suas crônicas no Caderno 2 de domingo. Os amigos, aqui de São Paulo, desconfiavam. Mas ninguém dizia nada. Onde andará Dulve Veiga, ou melhor, Caio Fernando?
Na sexta-feira passada fui ao jornal buscar as minhas cartas. Na caixinha, cinco ou seis para o Caio. Olhei os remetentes: todas mulheres. As mulheres adoravam o Caio. E os homens, como eu, e tantos amigos comuns, também. O Caio tinha cara de santo, de anjo, de Dom Quixote. Não foi a doença que o deixou tão magro. Quando ela chegou, ele já não tinha mais o que emagrecer.
Durante seis meses, em 87, eu, ele e a Lu Vullares ficamos trancados numa suite do Eldorado preparando uma novela para a Manchete, sob a tutela do Wilker. A novela nunca saiu. Mas a amizade se consolidou ali. Conversávamos muito mais que do trabalhávamos. Me lembro que um dia chegou uma carta de Londres dando conta da morte de um amigo dele. Aids. Caio perdeu o bom humor por uma semana. Mas depois se levantou, criou personagens engraçadíssimos para a novela.
Ninguém me avisou de nada. Hoje cedo (é segunda-feira, nove da manhã) acordei, peguei o jornal e estava lá, na primeira página. E um texto lindo da Lygia Fagundes Telles, amiga e companheira dele há tantos anos. Bateu fundo, muito fundo. Meu Menino Deus.
Já havia até discutido o teor da crônica de hoje com o Aluizio Maranhão. Era algo polêmico. Conversei com ele ontem de noite e ele não me disse nada sobre o Caio. Talvez ainda não soubesse.
Impossível não falar do Caio.
Quando ele esteve pela última vez em São Paulo convidou a mim e ao Reinaldo Esteves para uma esticada (depois do lançamento do livro dele) até um local gay chamado A Louca. E foi n'A Louca que eu o vi pela última vez. Conversamos um pouco numa mesa, tomando cerveja. Depois teve um show da Laura Finokiaro com todas aquelas luzes. No meio da neblina, da fumaça e dos spots, vi o Caio sair do salão e passar por mim pela última vez, iluminado de azul e vermelho, com uma névoa de gelo seco em torno da sua cabeça. Sumiu com um anjo sem trombeta. Sabia que nunca mais o veria.
Ele iria cuidar do jardim de Menino Deus.
Caio escreveu um dia sobre sua (e minha) amiga Ana C. Retruquei com uma crônica/crônica para ele, aqui neste espaço. Ele me mandou uma carta, a última:
"Pratinha querido, obrigado pela carta que você me escreveu. Pensei em responder pelo jornal mesmo - para dizer principalmente que acho você muito mais Ouro do que Prata - mas ia ser muita veadagem toda essa jogação pública de confetes, não?
Hoje gostei mais ainda ao ler que choveram anjos na sua horta depois da crônica. Adorei aquela história do diário da gestação. Anjo-da-guarda é papo quente. Se bem que alguns são meio vadios e nem sempre cumprem horário integral.
Ando bem, mas um pouco aos trancos. Como costumo dizer, um dia de salto 7, outro de sandália havaiana. É preciso ter muita paciência com este virus do cão. E fé em Deus. E falanges de anjos-da-guarda fazendo hora extra. E principlamente amigos como você e muitos outros, graças a Deus, que são melhores que AZT.
Que tudo esteja em paz com você. Dá um abraço no Reinaldo e em quem perguntar por mim.
Um beijo do seu velho
Caio F.!"
Onde andará Caio Fernando? Em Menino Deus, certamente. Eternamente.
...é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem...
Trecho de "Para uma avenca partindo".
Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu.
Um dia tu vais compreender que não existe nenhuma pessoa totalmente má, nenhuma pessoa completamente boa. Tu vais ver que todos nós somos apenas humanos. E sofrerás muito quando resolveres dizer só aquilo que pensas e fazer só aquilo que gostas. Aí sim,todos te virarão as costas e te acharão mau por não quereres entrar na ciranda deles, compreendes?
A mulher de leão
A mulher de leão, mesmo sem fome
Pega, mata e come.
A mulher de leão não tem perdão.
As mulheres de leão
Leoas são.
Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de leão!
São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
Ígneas, áureas e sardônicas
E muito, muito liberais.
Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Zero Grau de Libra
Sobre todos aqueles que continuam tentando,
Deus, derrama teu Sol
mais luminoso.
O Sol entrou ontem em Libra. E porque tudo é ritual, porque fé, quando não se tem, se inventa, porque Libra é a regência máxima de Vênus, o afeto, porque Libra é o outro (quando se olha e se vê o outro, e de alguma forma tenta-se entrar em alguma espécie de harmonia com ele), e principalmente porque Deus, se é que existe, anda distraído demais, resolvi chamar a atenção dele para algumas coisas. Não que isso possa acordá-lo de seu imenso sono divino, enfastiado de humanos, mas para exercitar o ritual e a fé – e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal.
Nesse zero grau de Libra, queria pedir a isso que chamamos de Deus um olho bom sobre o planeta terra, e especialmente sobre a cidade de São Paulo. Um olho quente sobre aquele mendigo gelado que acabei de ver sob a marquise do cine Majestic; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima. Eu queria o olho bom de Deus derramado sobre as loiras oxigenadas, falsíssimas, o olho cúmplice de Deus sobre as jóias douradas, as cores vibrantes. O olho piedoso de Deus para esses casais que, aos fins de semana, comem pizza com fanta e guaraná pelos restaurantes, e mal se olham enquanto falam coisas como: "você acha que eu devia ter dado o telefone da Catarina à Eliete? – e outro grunhe em resposta.
Deus, põe teu olho amoroso sobre todos que já tiveram um amor, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios, brincando aos berros em playgrounds de cimento. Ilumina o cotidiano dos funcionários públicos ou daqueles que, como funcionários públicos, cruzam-se em corredores sem ao menos se verem – nesses lugares onde um outro ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa.
Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja, Deus, e pousa devagar tua mão na cabeça daquele que, na noite, liga para o CVV. Olha bem o rapaz que, absolutamente só, dez vezes repete Moon Over Bourbon Street, na voz de Sting, e chora. Coloca um spot bem brilhante no caminho das garotas performáticas que para pagar o aluguel dão duro como garçonetes pelos bares. Olha também pela multidão sob a marquise do Mappin, enquanto cai a chuva de granizo, pelo motorista de taxi que confessa não ter mais esperança alguma. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas redações, pelas agências publicitárias, e joga tua luz no caminho dos escritores que precisam vender barato seu texto – olha por todos aqueles que queria ser outra coisa qualquer a que não a que são, e viver outra vida se não a que vivem.
Não esquece do rapaz viajando de ônibus com seus teclados para fazer show na Capital, deita teu perdão sobre os grupos de terapia e suas elaborações da vida, sobre as moças desempregadas em seus pequenos apartamentos na Bela Vista, sobre os homossexuais tontos de amor não dado, sobre as prostitutas seminuas, sobre os travestis da República do Líbano, sobre os porteiros de prédios comendo sua comida fria nas ruas dos Jardins. Sobre o descaramento, a sede e a humildade, sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma – sobre esse que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões.
Sobre as antas poderosas, ávidas de matar o sonho alheio – Não. Derrama sobre elas teu olhar mais impiedoso, Deus, e afia tua espada. Que no zero grau de Libra, a balança pese exata na medida do aço frio da espada da justiça. Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminoso, esse zero grau de Libra. Sorri, abençoa nossa amorosa miséria atarantada.
* O Estado de São Paulo, 24/set/1986.
Além disso, sou terrivelmente instável e entender as minhas reações é coisa que às vezes nem eu mesmo consigo.
Não posso mentir a você, não quero. Mas por favor não fantasie, menina, não seja demasiado adolescente. Como eu te escrevi várias vezes, é no nosso encontro, cara a cara, olho a olho, que as coisas vão se definir. Veja se você consegue separar o sonho da realidade. Anel, por exemplo, é um sonho. É um sonho que trago comigo há muito tempo e que comuniquei a você — e que não é hora ainda de ser realidade, porque não tenho absolutamente nada além da minha cuca — você me entende?
Menina, menina, tenho uma ternura enorme por você — e para mim é muito difícil isolar essa ternura da razão, quando te escrevo. Como fiz agora. Talvez tenha te parecido duro ou demasiado frio. Mas acho, honestamente, que você não deve se arriscar a ter uma tremenda decepção, depois de um ano inteiro de sonhos. Nós vamos nos ver, nós vamos conversar, sair juntos, provavelmente nos tocar — e de repente tudo pode realmente ser. Ou não. Mas de jeito nenhum quero, sei lá, ser irresponsável ou não medir as conseqüências dum negócio que pode ser muito sério.
Já não sou o mesmo, como você também não é. Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
E tudo mudou…
O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss
O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone
A peruca virou aplique,
interlace,
megahair,
alongamento…
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM
A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse
Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal
Ninguém mais vê...
Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service
A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão
O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD
A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email
O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street
O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também
O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike
Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato
Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...
A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!
A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...
... De tudo.
Inclusive de notar essas diferenças!
Influenciar uma pessoa é dar-lhe a nossa própria alma. O indivíduo deixa de pensar com os seus próprios pensamentos ou de arder com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são naturais. Os seus pecados, se é que existe tal coisa, são tomados de empréstimo. Torna-se o eco de uma música alheia, o ator de um papel que não foi escrito para ele. O objetivo da vida é o desenvolvimento próprio, a total percepção da própria natureza, é para isso que cada um de nós vem ao mundo.
Hoje em dia as pessoas têm medo de si próprias. Esqueceram o maior de todos os deveres, o dever para consigo mesmos. É verdade que são caridosas. Alimentam os esfomeados e vestem os pobres. Mas as suas próprias almas morrem de fome e estão nuas. A coragem desapareceu da nossa raça e se calhar nunca a tivemos realmente. O temor à sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião, são as duas coisas que nos governam.
[Trecho de O Retrato de Dorian Gray]
Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância. Pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono! Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer…
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.
Talvez o mal é que a gente pede amor o tempo todo. Não se preocupa nunca em dar amor, sem esperar reciprocidade… Eu perdi, eu tenho consciência absoluta de que eu perdi a oportunidade de amor mais viva e mais profunda que me foi oferecida até hoje. E agora eu não posso fazer mais nada.
(...)
Eu consigo me expressar muito melhor escrevendo do que falando. Tem um negócio que eu escrevi aqui nesse conto, é um conto chamado “Apenas uma maçã”: porque é certo que as pessoas estão sempre crescendo e se modificando, mas estando próximas, uma vai adequando seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e à modificação da outra. Mas estando distantes, uma cresce e se modifica num sentido e outra noutro, completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra. Uma pessoa quando tá longe vive coisas que não te comunica e tu aqui vive coisas que não comunica a ela. Então vocês vão se distanciando e quando vocês se encontram, vocês vão falar assim: oi, tudo bom e tal, como é que vão as coisas? E aí ele vai te falar por cima de tudo o que ele viveu e, não sei, vai ser uma proximidade distante. Não adianta, no momento que as pessoas se afastam elas estão irremediavelmente perdidas uma pra outra.
A gente sempre procura um amor que dure o mais possível. Procura, procura, talvez tu aches. Pra mim é horrível eu aceitar o fato de que eu tô em disponibilidade afetiva. Esse espaço branco entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, às vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo, porque não agüenta o fato de estar sozinho… Eu me sinto superfeliz quando encontro uma pessoa tão confusa quanto eu…
Quando eu escrevo eu consigo ordenar tudo aquilo que eu penso. Agora, quando eu falo ou quando eu sou, simplesmente, não consigo ordenar nada. Eu sou da maneira mais caótica possível.
[Caio 3D – O essencial da década de 1970]
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Tenho um amor fresco e com gosto de chuva e raios e urgências.
Tenho um amor que me veio pronto, assim, água que caiu de repente, nuvem que não passa.
Me escorrem desejos pelo rosto pelo corpo.
Um amor susto.
Um amor raio trovão fazendo barulho.
Me bagunça.
E chove em mim todos os dias.
[Autoria desconhecida]
Fio da Meada
A primeira vez que a vi eu estava no fundo do poço. Sentia-me mal, deprimida, não enxergava solução alguma para meus problemas e pensava até em fazer o tal concurso para o Banco do Brasil (Salve Caio Fernando Abreu). Eu estava ruim mesmo. Já sentiu como se você fosse a pessoa mais azarada, triste e desgraçada do mundo? Eu já. Sei exatamente o que é sentir-se a pessoa mais azarada, triste e desgraçada do mundo. Então decidi vê-la. Seria minha última tentativa antes de entregar-me à bebedeira e à luxúria desgarrada. Quisera eu ter feito isso ao invés daquilo. Percebo agora que o homem perde tudo quando deixa para trás seus princípios. Os meus nunca foram tão virtuosos. Eu queria viver, aborrecer, usar, esbanjar, envelhecer e, finalmente, me tornar adubo para uma árvore frondosa. Todo cemitério tem árvores. Eu havia perdido todas as esperanças. Fugi de todos os ensinamentos da igreja. Mas eu não estava procurando o diabo. Ele já estava comigo. E não era uma tentativa de entrar no inferno. Era apenas um pontapé para chegar mais rápido. Uma coisa é certa: Se me apego ao que aprendi desde criança não saio mais de casa. Todo dia é uma prova de que me deram o mundo todo torto e enfeitado pela visão católica das coisas. Cresci assim: Católiquinha, menininha, medrosinha e uma grande abobrinha que pensava muito em sexo. E, por falta de visão, acredito eu, calcei sapato e fui dar com ela. Encontrei o cartão dentro de um livro, telefonei e marquei hora. E fui. Ao chegar ao local, senti que talvez fosse hora de voltar, desistir, buscar outro caminho. Talvez fosse hora de me tornar crente do tipo que nem assiste TV porque é pecado. Mas eu já estava ali, frente à casa, que era amarela e azul, portões grandes, carro na garagem, jardim imenso cheio de damas da noite, jasmim, petúnias, cães, pássaros e havia enormes janelas e eu não poderia mais voltar. Eu havia me tornado o que anda na boca do povo. Uma versão moderna de Macabéa (Pessoas gostam de Macabéa só por que Clarice disse não gostar? Pessoas gostam de Macabéa por que é o personagem mais famoso de Clarice? A nordestina desgraçada faz sucesso porque é feia, desconcertante, triste e todo mundo adora dizer que entende personagem complexo. Mas ela não é complexa. É apenas uma mulher que sofre e morre no final das contas). Eu penso demais. Este é meu problema. E, por causa deste pensar é que estou aqui de cara com a casa da mulher que provavelmente vai falar muita bobagem e vou sair daqui me sentindo pior do que cheguei. Campainha, empregada, sala, mulher de vestido longo e sorriso bem grande, pergunta meu nome, vai lá dentro fazer não sei o que e volta. Aí ela abre a boca:
― Você é de peixes. Tem um filho. Está sofrendo. Seu pai bebia e você foi criada por freiras enquanto sua família se refazia. Você casou. Mas não foi feliz. Vejo um amante. Sim, você teve um amante. Homem forte, porém não a satisfez. Você é compenetrada e gosta muito de ler. É muito sábia.
Espantada, eu a segui por um imenso corredor e chegamos a seu consultório esotérico. A mulher, que cheirava à lavanda em excesso, me mandou sentar, sentei, disse para eu me concentrar, me concentrei, pegou um monte de cartas, abriu tudo em leque e me mandou escolher algumas. Prontamente eu escolhi as cartas e ela foi falando o que via.
― Vejo um homem forte.
― Forte Forte ou forte forte?
― Vejo que este homem está no seu caminho.
― E de que lado ele vem?
― Você ainda não o conhece.
― Rico?
― Muito.
― Poxa... Eu não queria homem rico.
― Espera. Eu vejo. Ele entrou em processo de falência. Virá até você e pedirá ajuda.
― Pobre assim? Não quero homem dependente de mim, não.
― Vejo que ele pedirá seu amor. Não é por dinheiro.
― Entendo.
― Mas não espere grande coisa. Tenha paciência com a vida. Tudo vai se ajeitar.
― Entendo de novo.
― E há um bom emprego esperando por você.
― Entendo mais uma vez.
Entendi tanto que acabei encontrando o fio da meada. A tal mulher falava exatamente o que eu esperava ouvir. E como é bom ter alguém que trace sua vida através de cartas de tarô e diga que tudo será perfeito. E a mulher continuou a ladainha e eu passei a sentir medo porque, além de cartomante, a mulher era vidente de situações passadas. Como ela poderia saber tanto de mim se mal abri a boca. Eu apenas disse meu nome completo. Só o nome. O nome completo. Um sino de proporções devastadoras soou dentro de minha cabeça. O sino badalava Google, Google, Google. Assim, bem alto. Aí ouvi um click que clica na mente de gente burra como eu. Basta digitar seu nome no Google que sua vida pode (ou não) aparecer num piscar de olhos. Não existe mais essa história de segredo. Todo mundo sabe de todo mundo. Arrasada, voltei para casa. Não fui atropelada, Clarice. Rindo-me de mim, pensei: Quando foi que me tornei tão medíocre?
O tempo passou e nunca mais vi a cartomante. A depressão sumiu. Fiz concurso, tenho emprego e estou bem. Ou quase bem. E foi preciso que eu pagasse 80 pratas de meu bolso furado para saber que vida é traça, que nada é mágica e que de mim, ilusoriamente, cuido eu.
Texto de Letícia Palmeira.
Disponível aqui ó.
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sábado, 18 de dezembro de 2010
14052010
Teu jeito sincero, mas acanhado de expressar sentimentos...
Tua maneira de sempre esperar o melhor das pessoas, mesmo das piores pessoas (e não, eu não estou falando de mim)...
Teu compromisso com tua doutrina, ideais e afins...
Tua visão de vida e de mundo, tão diferente da maioria...
Tua generosidade e sensibilidade com o outro...
Tua pele morena, linda, da cor do pecado (meus pecados são todos negros!)...
Teu cheiro, quase sempre de perfume, embora eu prefira sem...
Teu jeito de virar outra pessoa quando fala de sexo (adoro esse teu jeito puro, que pode ser tão safado às vezes)...
Teu corpo, que me dá vontade e que é a medida exata do meu desejo ainda não satisfeito...
Tua disponibilidade em renunciar ao momento pelo eterno (forever)...
E até o teu jeito tão amigo, prestativo e ponderado que vai me fará esperar mais tempo do que eu realmente gostaria.
Enfim...você é o Cara! (depois do Lula, é lógico!)
Escrito para F!,
antes de saber que ele não é nem sombra do que eu escrevi aqui...
ao que ele honestamente, respondeu:
"queria ser pelo menos a metade disso que tu achas".
*"Nada mais sexy que inteligência"
-Você é daquelas mulheres que se apaixonam pelo verbo da outra pessoa como eu :) e é muito bom, essa construção de intimidade lenta, compassada tipo, aquela frase de Eça de Queiroz onde cada hora tem o seu encanto diferente cada passo conduz a um extase e a alma se cobre de um luxo radioso de sensações;)*
-Sinto-me definida!
*Essa foi a frase que deu origem ao diálogo.
*Essa foi a frase que deu origem ao diálogo.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
* About *
“About me” é coisa rápida. Ninguém que perca algum tempo na internet para fazer um blog ou manter um perfil num site de relacionamentos é interessante o bastante para ter sua biografia lida - com exceção das pessoas que já tem como profissão escrever. Não é o meu caso, claro. Eu sou uma mulher na casa dos vinte, que insiste em ser menina empolgada quando já deveria ter parado com esse negócio de pegar homens aleatórios por aí. Já tive um bocado de experiências: mais do que você, menos do que é necessário para decidir casar-se monogamicamente e o bastante pra perceber que homens heterossexuais são (quase) todos uns idiotas. Mas eles me divertem, e admitir que noventa por cento das minhas escolhas são equivocadas e arrependíveis é muito digno. Eu dou para idiotas, pero mantenho minha dignidade.
[Foi uma questão pura e simples de identificação imediata. Seguindo.]
Disponível aqui ó.
Seu olhar
Através dos seus profundos olhares,
Dôo a minha ilusão e ternura a todos eles.
Como bem disse outrora,
Jamais encontrarei palavras tão exatas,
Tão lúcidas, lúdicas, reveladoras,
Tão bem empregadas na magia do escrever.
E me olham incessantemente,
E me pedem e me fazem perder
Entre o sono e o sonho,
Entre as idéias e os ideiais,
Entre o espelho e o infinito...
Perco-me entre palavras não ditas
E serenos anseios por tudo que não se traduz.
Divago sobre a minha existência.
Menino-homem que reconheceu na primavera dos nós
A face daquilo que nunca existiu.
Meus/seus acasos antes estão nas minúcias do respirar,
do conhecer ponta por ponta, nó por nó.
Fábrica da pureza, porto desejado,
Cá estamos, desvendando a lógica do infinito.
Revele-me tudo ainda que tem a dizer:
Decifrarei apenas pela cor e pelo tempero.
Juro que serei do porvir
[não pretendendo mais ser breve]
Sou todo ouvir...
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Algumas coisas que os guris querem que a gente saiba...
1. "Quando pede que eu faça algo por você, me sinto um homem de verdade. Agora, quando dá palpites sobre como devo agir, lembra a minha mãe."
2. "Penso em você muito mais do que imagina. Apenas não te ligo cada vez que isso acontece."
3. "Não me faça parar o carro e pedir informações a outro homem. Você gostaria que eu dissesse para se aconselhar sobre moda com outra mulher?"
4. "Nunca conto detalhes da nossa vida sexual aos meus amigos. Só quero que saibam que transo regularmente e, às vezes, invento alguns fatos para impressioná-los."
5. "Se eu tiver uma chance, nunca faça jogo duro. Caso contrário, vou pensar que você não está interessada e deixarei de ligar."
6. "Não me peça para dar conselhos sobre o que você deve vestir. Tanto a saia azul quanto a preta me parecem ótimas e mal consigo dizer a diferença entre elas."
7. "Se não conversei com você para definirmos o rumo do relacionamento, é porque ainda estou decidindo o que quero para a minha vida."
8. "Muitas das coisas que faço, e que a deixam surpresa, aprendi com outra garota com quem saí antes de conhecer você."
9. "Não gosto quando você acha defeitos no meu corpo. Portanto, se quiser conferir meu físico, seja discreta."
10. "Se quiser fazer algum comentário sobre o nosso pênis, lembre-se de três coisas: se for pequeno, diga que tem o tamanho ideal. Se estiver na média, diga que é enorme. E se for enorme, o dono já saberá disso, mas vai gostar de ouvir."
11. "A maior parte das mulheres não admite quando está errada. Então, se você reconhecer quando estou certo, não importa o motivo da discussão, vai me surpreender."
12. "Não tenha receio de confessar o que a deixa excitada."
13. "Toda vez que você vai ao banheiro, em um restaurante ou outro lugar, faço questão de contar quantos homens olham em sua direção. Gosto de saber quantos desconhecidos me invejam por estar com você."
14. "Quando me acaricia e eu não fico excitado, é porque está sendo muito delicada. Eu sei que você gosta de ser tocada gentilmente, mas meu amigão precisa de mais pressão."
15. "Adoro ser seduzido. Então, pode fazer isso com mais frequência. A responsabilidade de sempre dar o primeiro passo, faz com que eu me sinta mais pressionado do que imagina."
16. "Se eu contar algo que fiz a uma ex, não significa que ainda esteja a fim dela. Na verdade, digo isso para mostrar como sou bom partido."
17. "Se eu pego no seu pé, é um bom sinal. Já notou que nós homens estamos sempre analisando nossos amigos? Só fazemos isso com quem gostamos de verdade. Pode parecer estranho, mas é nosso jeito de mostrar afeto."
18. "Só porque olho, de vez enquando, para outra mulher, não quer dizer que deixei de amar você. Ela apenas veste uma roupa mais insinuante."
19. "Quando elogio sua roupa logo que a vejo, estou sendo gentil. Mas, quando falo sobre ela durante o jantar ou durante a festa, estou arrumando uma desculpa para observar detalhadamente seu corpo."
20. "Aquela camiseta que deixa parte da sua bunda à mostra, é muito mais sexy que as lingeries caras."
21. "Todo homem tem uma musica típica de garota em seu computador, como Gimme More da Britney. Mas, se você descobrir, vamos dizer que não sabemos como foi parar lá."
22. "Quando carrego sua bolsa em público, me sinto como se estivesse vestindo saia. Não me peça pra fazer isso."
23. "Sim, fico louco de raiva quando você demora horas pra se arrumar. Mas é só aparecer linda que tudo passa."
24. "Não é uma boa idéia levar à sério as minhas queixas quando brigamos. Você escolhe suas palavras com mais cuidado, afinal planeja tudo o que quer dizer com antecedência. Mas eu serei pego desprevenido."
25. "Caso você queira saber com quantas mulheres eu já dormi, darei um número baixo se gostar de você ou um alto se estiver apenas querendo uma transa."
26. "Sei que sou carinhoso com você, mas não saia dizendo que sou um fofo. Esse tipo de comentário arruína a minha reputação."
27. "Não vou gostar se você odiar minha mãe, mas se concordar sempre com ela, também não será bom."
28. "Por favor, guarde os detalhes sobre sua menstruação para as amigas. A não ser que esteja atrasada."
29. "Quer que eu assista a mais filmes românticos? Então jamais conte às suas amigas se eu chorar ao final de um deles."
30. "É fácil descobrir o tipo de mulher que me atrai, basta encontrar minha coleção de revistas."
31. "Tenho que admitir: amo ficar em seus braços enquanto acaricia meu cabelo."
32. "Saber que você não está disponível o dia todo faz com que eu queira passar mais tempo ao seu lado. Pode apostar."
33. "Se sua amiga disser que me acha gostoso, é melhor nem me contar. Eu ficaria com o ego lá em cima e ainda me imaginaria fazendo coisas com ela."
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Breve Inspiração
Tô pagando pra ver o dia em que alguém vai me amar. Que vai contar as horas pra me encontrar, vai se preocupar em estar arrumadinho, cheiroso e com um gostinho bom, pra me agradar. Alguém que vai pensar em mim o dia todo, que vai querer lembrar-se de coisas que viu e ouviu pra compartilhar comigo. Ele vai achar que fica linda a minha foto na frente do seu celular, ou num porta-retratos na sua cabeceira. Mas, mesmo que isso nunca aconteça, eu sempre vou amar alguém que nem sabe que eu sinto tudo isso por ele. E mesmo que eu tome coragem pra falar, ele não se importará com isso, e irá me abandonar. Então eu vou ter que esquecer (eu nunca esqueço), terei que superar e começar a procurar outra pessoa em quem depositar todo esse sentimento.
Afinal, amor não se pede.
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Código de conduta para mulheres
"Mesmo que a conduta do marido seja censurável, mesmo que este se dê a outros amores, a mulher virtuosa deve reverenciá-lo como a um deus. Durante a infância, uma mulher deve depender de seu pai, ao se casar de seu marido, se este morrer, de seus filhos e se não os tiver, de seu soberano. Uma mulher nunca deve governar a si própria."
Leis de Manu (Livro Sagrado da Índia)
"A mulher que se negar ao dever conjugal deverá ser atirada ao rio."
Constituição Nacional Suméria (civilização mesopotâmica, século (XX A.C.)
"Quando uma mulher tiver conduta desordenada e deixar de cumprir suas obrigações do lar, o marido pode submetê-la à escravidão. Esta servidão pode, inclusive, ser exercida na casa de um credor de seu marido e, durante o período em que durar, é lícito a ele (ao marido) contrair novo matrimónio"
Código de Hamurábi (Constituição Nacional da Babilônia, outorgada pelo rei Hamurábi, que a concebeu sob inspiração divina, século XVII A.C.)
"A mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: Senhor, que desejais que eu faça?"
Zaratustra (filósofo persa, século VII A.C.)
"As mulheres, os escravos e os estrangeiros não são cidadãos."
Péricles (político democrata ateniense, século V A.C., um dos mais brilhantes cidadãos da civilização grega)
"A mulher é o que há de mais corrupto e corruptível no mundo."
Confúcio (filósofo chinês, século V A.C.)
"A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior."
Aristóteles (filósofo, guia intelectual e preceptor grego de Alexandre, o Grande, século IV A.C.)
"Que as mulheres estejam caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar. Se querem ser instruídas sobre algum ponto, interroguem em casa os seus maridos."
São Paulo (apóstolo cristão, ano 67 D.C.)
"Os homens são superiores às mulheres porque Alá outorgou-lhes a primazia sobre elas. Portanto, dai aos varões o dobro do que dai às mulheres. Os maridos que sofrerem desobediência de suas mulheres podem castigá-las: deixá-las sós em seus leitos, e até bater nelas. Não se legou ao homem maior calamidade que a mulher."
Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos, escrito por Maomé no século VI, sob inspiração divina)
"Para a boa ordem da família humana, uns terão que ser governados por outros mais sábios que aqueles; daí a mulher, mais fraca quanto ao vigor da alma e força corporal, estar sujeita por natureza ao homem, em quem a razão predomina."
São Tomás de Aquino (italiano, um dos maiores teólogos católicos da humanidade, século XIII)
"Inimiga da paz, fonte de inquietação, causa de brigas que destroem toda a tranquilidade, a mulher é o próprio diabo."
Petrarca (poeta italiano do Renascimento, século XIV)
"O pior adorno que uma mulher pode querer usar é ser sábia."
Lutero (teólogo alemão, reformador protestante, século XVI)
"As crianças, os idiotas, os lunáticos e as mulheres não podem e não têm capacidade para efetuar negócios."
Henrique VII (rei da Inglaterra, chefe da Igreja Anglicana, século XVI)
"Enquanto houver homens sensatos sobre a terra, as mulheres letradas morrerão solteiras."
Jean-Jacques Rousseau (escritos francês, precursor do Romantismo, um dos mentores da Revolução Francesa, século XVIII)
"Todas as mulheres que seduzirem e levarem ao casamento os súditos de Sua Majestade mediante o uso de perfumes, pinturas, dentes postiços, perucas e recheio nos quadris, incorrem em delito de bruxaria e o casamento fica automaticamente anulado."
Constituição Nacional Inglesa (lei do século XVIII)
"A mulher pode ser educada, mas sua mente não é adequada às ciências mais elevadas, à filosofia e algumas das artes."
Friederich Hegel (filósofo e historiador alemão do século XIX)"
"Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver, envergonhada de sua face. E é bem merecido, por dirigir-se ao homem com maldade de linguajar ousado."
Le Ménagier de Paris (Tratado de conduta moral e costumes da França, século XIV)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Se eu pudesse iluminar por dentro as palavras de todos os dias
para te dizer, com a simplicidade do bater do coração,
que afinal ao pé de ti apenas sinto as mãos mais frias
e esta ternura dos olhos que se dão.
Nem asas, nem estrelas, nem flores sem chão
- mas o desejo de ser a noite que me guias
e baixinho ao bafo da tua respiração
contar-te todas as minhas covardias.
Ao pé de ti não me apetece ser herói
mas abrir-te mais o abismo que me dói
nos cardos deste sol de morte viva.
Ser como sou e ver-te como és:
dois bichos de suor com sombra aos pés.
Complicações de luas e saliva.
Quinto poema do pescador
Eu não sei de oração senão perguntas
ou silêncios ou gestos de ficar
de noite frente ao mar não de mãos juntas
mas a pescar.
Não pesco só nas águas mas nos céus
e a minha pesca é quase uma oração
porque dou graças sem saber se Deus
é sim ou não.
Oração dos trinta anos [Trecho]
"Deus, dai-me
Paciência de novo
(eu preciso)
amor, amores, amigos
felicidade, sempre
filhos, um dia
sexo selvagem
o vil metal
e muitas viagens."
Limitações do Flerte
Que fim levaram aquelas
que flertamos nos bares,
esquinas e aeroportos?
Não aquelas que levamos
ao restaurante, parques
e camas, mas aquelas tocadas
num leve aceno, de longe,
corpo fluindo e morrendo
na ponte aérea do instante.
Mas por que pensar nas distantes
que nem tocamos na mão ou fronte?
Preferimos jogar com a ausente?
É essa a nossa concreta fonte?
Como se vê, não adianta, não se aprende.
A gente aqui pensando nas que flertamos
de leve, em dois minutos intensos,
entre um sorriso e o gesto frustro,
enquanto, perto, pisamos brutos
o calcanhar da que está junto,
ou pulamos na jugular
da que nos cobre de frutos,
olhando por sobre os muros
as que ondeiam seus bustos
sobre a linha do horizonte.
- Amar com os olhos é mais fácil
e anônimo? - É mais fútil? É declarar
por telefone, apenas com um fio
de voz que enrosca os corpos e mentes,
ou melhor, numa vaga prolação, sem dormente
ou trilho que leve o trem-passageiro
ao outro corpo-estação.
Mas como é vegetativo esse amar plantado,
esgalhando o olhar furtivamente. A isso,
prefiro carnívoras plantas que se abraçam
e num sufoco se esmigalham deixando ao chão
sementes em que piso, convertendo a morte havida
em refluir de raízes.
Flertar é texto-antigo, é bordar caligrafias
quando há guerra e telegramas. Flertar é prefácio
e eu quero logo desfolhar o livro. Flertar é usar
binóculos
devastando camarotes oblíquos
quando o drama está no palco
- e em nossos corpos aflitos.
Amar assim tão voyeurista, é tão perverso
como amar só por carta, com a caneta em riste
e triste
é pior que conhecer estrela só na foto,
é apenas vê-la de luneta, correr atrás de um cometa
É chamar a fêmea sem macho
na padaria. É cear ante um retrato
e uma cadeira vazia.
Isto de amar de longe, só com os olhos,
não é sequer ir à caça. É ir à exposição
de animal de raça. É ver decoração em loja,
olhar por trás da vitrina um feriado que passa.
É coisa de telegrafista ou coisa de mau amador
de rádio, ouvindo só os ruídos
do outro lado da antena e cama.
Não é tocar de ouvido partitura desconhecida.
O músico, nisso, é o contrário, vai mais fundo
pois pega com as mãos e arpeja
a música com os dedos.
E eu tenho essa mania de amar como o invasor
pulando os muros de Roma, como o astronauta
se acolchoando na câmara, como o casulo
se entretecendo no claro-e-escuro,
enfim, como a gavinha da barroca parreira
crescendo a sede das vinhas.
Um amar estabanado, como a criança quebrando
o delicado brinquedo e derramando a alma
dos pichos sobre o tapete do medo.
Comigo é assim:
ficar olhando não basta. Vou logo
precipitando borrasca e estrela.
Que se cuide o olhar alheio quando
olho com o corpo inteiro, porque alojo fácil,
peço café e pijama, e fico pastando
com esse olhar de boi manso
no breve espaço da cama.
Canção do Amor Imprevisto
Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita…
A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.
Presença
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!
Confissão
Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Reflexivo
O que não escrevi, calou-me.
O que não fiz, partiu-me.
O que não senti, doeu-se.
O que não vivi, morreu-se.
O que adiei, adeus-se.
Fascínio
Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.
Não deveria, dizem.
Me esforço. Aliás,
já nem me esforço.
Abertamente me ponho a admirá-las.
Não estrou traindo ninguém, advirto.
Como pode o amor trair o amor?
Amar o amor num outro amor
é um ritual que, amante, me permito.
Assombros
Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.
Arte-final
Não basta um grande amor
para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
que o amor da gente.
O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.
Uma coisa é a letra,
e outra o ato,
quem toma uma por outra
confunde e mente.
Os Ombros Suportam o Mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Inconfesso Desejo
Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo.
A Um Ausente
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
Porque
Amor meu, minhas penas, meu delírio,
Aonde quer que vás, irá contigo
Meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
Sabendo embora ser perdido intento
O de cingir-te forte de tal modo
Que, desde então se misturando as partes,
Resultaria o mais perfeito andrógino
Nunca citado em lendas e cimélios
Amor meu, punhal meu, fera miragem
Consubstanciada em vulto feminino,
Por que não me libertas do teu jugo,
Por que não me convertes em rochedo,
Por que não me eliminas do sistema
Dos humanos prostrados, miseráveis,
Por que preferes doer-me como chaga
E fazer dessa chaga meu prazer?
Não Sei Quantas Almas Tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.
Onde você vê um motivo pra se irritar,
alguém vê a tragédia total
e o outro vê uma prova para sua paciência.
Onde você vê a morte,
alguém vê o fim
e o outro vê o começo de uma nova etapa...
Onde você vê a fortuna,
alguém vê a riqueza material
e o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.
Onde você vê a teimosia,
alguém vê a ignorância,
um outro compreende as limitações do companheiro, percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.
E que é inútil querer apressar o passo do outro,
a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar.
"Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura."
Corais
A ausência de pés me
possibilita voar
e fechar
as portas a quem
não desejo que adentre
em minhas utopias.
É tão bom estar
com você e esquecer
que lá fora os corais
entoam outros cânticos
e a harmonia é solidão.
Bumerangue
Em casos de extremo retorno
Tente de novo
Ao menos pra compreender
Que não passa de hoje
Que nada volta
Ao mesmo ponto
Para maiores informações
No posto dos votos
Já faz algum tempo
Já foi o pombo
Meio cedo pra avisar
Que agora é pra valer
Faz séculos
Faz outro rogo
Noutro plano de partida
Por via das dúvidas
E questões em aberto.
Cátedra
Leio-te
habito páginas e delírios
dedos cegos a percorrer relevos
olhos e sentidos
a decifrar teu alfabeto.
Conheço-te
prefácio e todos os capítulos
livro amigo, amado e preferido
de cama, axila e cabeceira
discurso tão conhecido...
Leio-te e conheço-te
não o bastante, talvez
(apesar do catre e da cátedra)
pr’adivinhar-te o epílogo.
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A tristeza é feia e quer casar [Silmara Franco]
Está no dicionário: Tristeza: [Do lat. tristitia.] S.f. 1. Qualidade ou estado de triste. 2. Falta de alegria. 3. Pena, desalento, consterna...
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Acordei tão inquieta, parecia até uma tristeza. E ainda agora estou revirando coisas aqui por dentro tentando reconhecer que rosto é este qu...
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Está no dicionário: Tristeza: [Do lat. tristitia.] S.f. 1. Qualidade ou estado de triste. 2. Falta de alegria. 3. Pena, desalento, consterna...
-
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